Eliseu Auth
Tive grandes mestres e sou grato a eles. E, se nossos pais são os primeiros mestres que temos, incluo-os. Foram eles que me infundiram os princípios de vida que tenho. Outros são professores, advogados, sacerdotes e homens letrados ou não. De muitos guardo o nome e de outros a memória já não lembra, mas suas lições jamais esqueci. A minha gratidão sabe de todos e os enche de preces. Não me digam piegas porque vou citar dois deles que me honram com a leitura das diatribes e irresoluções semanais no “Umuarama Ilustrrado”. Dom Orlando Dotti e padre Lauro Buetenbender representam os tantos queridos mestres de quem sou devedor insolvente e eternamente grato.
Lembro meus mestres porque um deles nos deixou na semana passada e arribou para o céu. Mauro Todeschini era Promotor de Justiça da querida Porecatu, costeada pelo rio Paranapanema, lá no norte do Paraná. Certo que o então professor suplementarista e estudante de Direito da FADAP de Tupã, sonhava ser advogado criminalista. Se amava o magistério e as atividades estudantis que me envolviam, queria viver do suor do rosto, mas com total segurança e sem depender do imponderável ou de quem quer que fosse.
No imaginário, embates históricos nos tribunais o embalavam e tribunos se tornavam paradigmas. São tantos desde Cícero, Demóstenes e Ferri. Daqui, sonhava chegar perto de Evaristo de Moraes, Carlos Araújo, José Carlos Dias, Tomás Bastos, Evandro Lins e Silva, Mário Jorge, Juarez Cirino dos Santos e mil outros. Até delirava, vivesse no tempo de Sócrates, defendê-lo e impedir sua condenação à morte por cicuta. Dizia aos botões que, estivesse também lá um advogado como sonhava ser, impediria a condenação de Cristo à morte na cruz. Afinal, crime não havia. Tudo, devaneios que iam para além dos pródromos do cristianismo. Para sonhos não há fronteiras no tempo e no espaço. Olhando para a história e à frente, o sonho do sonhador era ser advogado criminalista.
Pois é. Numa noite de gala, enquanto o estudante sonhador apresentava um evento social no Clube do Café de Porecatu, lá estava o Promotor de Justiça com sua família. Finda a cerimônia, convidou aquele estudante para ser estagiário do Ministério Público e lhe infundiu amor pela instituição que honrou com sabedoria, dignidade e altivez. Adeus, mestre Mauro Todeschini.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).