COLUNA SAÚDE
Augusto Legnani Neto
Na última semana de janeiro deste ano, uma notícia chamou a atenção: a Neuralink, uma das empresas de Elon Musk, após a aprovação do FDA, fez o primeiro implante de um microchip no cérebro de um humano. Esta interface entre pessoas e máquinas não é mais novidade desde 1958, quando o Dr. Ake Senning implantou o primeiro marcapasso. Desde então, tivemos implantes cocleares, variados tipos de implantes cardíacos incluindo corações artificiais, neuroestimuladores para Parkinson e tremor essencial, estimuladores do nervo vago para epilepsia e depressão, estimuladores medulares para dor crônica, estimuladores sacrais, frênicos e até do hipoglosso para tratamento de apneia obstrutiva do sono.
Então, o que há de especial nesta última empreitada?
Poderíamos começar pelo local de implante: estamos falando do cérebro. Temos ainda a novidade de que esta interface nos permite controlar máquinas com nosso pensamento, além de levantar questões éticas como o risco deste implante causar danos ao local implantado e ainda preocupações de como estes dados colhidos pelo implante serão manejados.
O que se sabe até agora é que uma pessoa recebeu o implante, que foi realizado por um robô especialmente projetado para minimizar os danos ao local do implante e que os dados preliminares são encorajadores. O implante consiste em um chip com 64 fios de polímero que encerram 1024 pontos para a gravação da atividade cerebral.
Quais os possíveis cenários futuros dependendo deste teste?
O cenário mais realista para o sucesso imediato da Neuralink está nas aplicações médicas, particularmente para indivíduos com deficiências graves. A adoção precoce é provável dentro desse demográfico, dependendo da utilidade percebida da tecnologia, implicações de privacidade e percepção geral de risco-benefício.
Em um cenário otimista, a tecnologia da Neuralink poderia transcender suas aplicações médicas e integrar-se à vida cotidiana, potencialmente aprimorando habilidades cognitivas e experiências sensoriais. Isso exigiria superar preocupações sobre invasividade e privacidade de dados.
Uma visão mais pessimista considera a possibilidade da tecnologia falhar em atender às altas expectativas devido a dilemas tecnológicos, de segurança ou éticos. Aprensão pública, controvérsias éticas e regulamentação podem dificultar seu uso futuro.
E você leitor estaria disposto a fazer este tipo de implante?
Augusto Legnani Neto, médico especialista em oftalmologia e professor universitário, analisa os avanços na interface entre humanos e máquinas.
*Perguntas e comentários podem ser enviados para o e-mail [email protected]