Cotidiano

CENSO 2022

Recenseadores do IBGE denunciam ameaças e violência em entrevistas

19/08/2022 09H28

Jornal Ilustrado - Recenseadores do IBGE denunciam ameaças e violência em entrevistas

O medo, a falta de orientações e a vontade de desistir têm sido comuns no dia a dia dos recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde que começaram a atuar na realização do Censo 2022 no dia 1º de agosto.

Relatos

Os relatos são numerosos em grupos das redes sociais que reúnem os profissionais. “Um homem quase me bateu quando perguntei o sexo dele; já saiu gritando comigo e me perguntando que tipo de pergunta é essa, porque ele é muito macho”, desabafou uma recenseadora em um grupo. “Ontem eu voltei para casa chorando, fiquei o dia todo escutando piadinhas dos moradores”, lamenta outra. “Eu vou desistir antes de terminar o primeiro setor”, contou outra agente.

Violência

Nos últimos dias, foram registrados casos de agressões verbais, assédio e ameaças aos profissionais em diferentes pontos do País Os recenseadores são orientados a retornar a cada domicílio por quatro vezes no caso de recusa ou ausência dos moradores.

Intolerância

Em uma cidade no interior do Maranhão, José (nome fictício) diz que, na quarta visita a uma das casas, deixou uma notificação que pede que o cidadão entre em contato com o recenseador responsável pela área. “Não sei como, mas a pessoa achou meu número pessoal e ligou às nove da noite me insultando, dizendo que ia mandar me prender, que não ia responder o censo porque ela não era vagabunda e não devia nada para o governo”, conta.

Crime

Em áudio enviado ao Agente Censitário Supervisor (ACS), ele afirma que, ao explicar sobre a obrigatoriedade das respostas, foi confrontado: “Ela falou que não tinha nada a ver, e que se você quiser pode ir lá, mas que ela poderia nos processar por ter deixado uma notificação na casa dela. Eu considero isso um desacato ao funcionário público, que é um crime, né?”.

Divulgação

Após conversar por telefone com o supervisor, que orientou o recenseador a voltar à residência, a moradora concordou em responder aos questionamentos, mas José não descarta registrar um boletim de ocorrência. “Se for só pra conversar e ela sair impune, ela pode fazer isso com outras pessoas”, afirma.

Para os recenseadores ouvidos, as dificuldades se devem à falta de divulgação sobre o censo. “A maioria das pessoas não sabe o que significa essa entrevista e só faltam nos bater; outras se escondem ou nos tratam super mal”, continua Bruna.

Muitos entrevistados também parecem não compreender o objetivo dos questionários: há moradores que ficam receosos de ter que informar o CPF ou responder a perguntas como de qual raça se consideram e se são do sexo feminino ou masculino.

Casos isolados

Segundo o IBGE, as situações de agressão são casos isolados que estão sendo encaminhados localmente pelas unidades estaduais do instituto. Por meio de nota, o órgão informou que em casos de ofensa, assédio, agressão, qualquer ato de violência, verbal ou física, a orientação aos recenseadores é inicialmente comunicar ao coordenador de subárea ou ao supervisor e registrar um boletim de ocorrência para as devidas providências.

“Cabe ressaltar que agentes, pesquisadores ou recenseadores do IBGE são servidores públicos federais. Crimes contra eles são sujeitos a investigações federais com base no art. 144, § 1º, inc. I, da Constituição da República Federativa do Brasil. O mesmo art. 144 se aplica quando alguém se faz passar por agente, recenseador ou pesquisador do IBGE. Todos os casos o IBGE repassa à AGU (Advocacia-Geral da União). O infrator fica sujeito a penas previstas em lei”, diz o informativo.

Obrigatório

Responder aos questionamentos do censo é obrigatório, como prevê a Lei Federal 5.878/1973. Não fornecer as informações solicitadas após um prazo de sete dias é considerado uma recusa, passível de multa e sanções judiciais descritas na Lei 5 534/1968. O IBGE se compromete a resguardar a confiabilidade das informações prestadas e garante que elas são usadas exclusivamente para fins estatísticos.

Censo

Realizado a cada dez anos em todos os municípios brasileiros, o Censo Demográfico do IBGE busca produzir dados estatísticos que retratem como vive a população a partir de informações sobre educação, renda, saúde, saneamento básico e emprego. Os dados embasam o planejamento e a execução de políticas públicas em todos os níveis de governo, orientando sobre áreas prioritárias de investimento e distribuição do orçamento.

Segundo o IBGE, trata-se da única fonte de informações sobre a situação de vida dos habitantes que abrange cada um dos municípios do País, já que os levantamentos por amostragem não representariam todos os níveis geográficos.