Helton Kramer Lustoza
É impressionante o pavor histórico que a população tem de termos como “socialismo” e “comunismo”. O estereótipo pegou tanto que nas redes sociais, a escalada de apoiadores da extrema-direita utilizam o uso destas palavras como forma de xingamentos e ofensas. O perigo é tanto que alguns professores relataram o receio em tratar de assuntos como o marxismo em sala de aula.
Mas este ponto merece uma reflexão: depois de 30 anos do fim da União Soviética, por que esses conceitos ainda são encarados com medo ou repulsa por parte da população?
Em vários momentos da história mundial volta-se ao debate acerca do melhor modelo de Estado frente as adversidades econômicas e sociais. E agora não será diferente! Estamos enfrentando um período difícil em que se coloca de um lado a necessidade do Estado combater um vírus que ainda não há remédio e, de outro, a necessidade em se garantir empregos, manter a saúde financeira de empresas e garantir a subsistência de pessoas vulneráveis.
E no âmbito deste contexto, a internet se identificou como uma gigantesca praça pública em que todos falam o que bem desejam, inclusive utilizando erroneamente os termos históricos, sem respeitar a ciência. Neste sentido, as opiniões aparecem mais como manifestações preconceituosas e desrespeitáveis em vez de posicionamentos políticos passíveis de debate.
A história demonstrou que, desde a União Soviética até a Venezuela, o socialismo foi um desastre, não importa quais eram as intenções originais. Embora os governos socialistas ingressassem no poder com a promessa de igualdade, sempre entregaram tirania e desigualdade. Nos parece que defender uma revolução socialista no Brasil seria algo sem sentido – é uma defesa sem lógica e sem contexto.
Não perdemos de vista que foi o capitalismo que permitiu o atual contexto de abundância de produtos e alimentos. Todos os supermercados, lojas e shoppings estão sempre abastecidos com produtos oriundos de qualquer lugar do mundo. Apesar de inúmeras críticas acerca da desigualdade gerada pelo consumo desenfreado e a ausência de políticas eficientes na distribuição de renda, dificilmente a população abriria mão do atual sistema capitalista em troca de um estado centralizado.
Ocorre que o termo “comunismo” é inserido indevidamente no medo popular, a fim de grupos políticos conseguirem implementar sistemas tão perversos quanto a própria revolução socialista. O pavor de que o Estado promova a estatização dos meios de produção ou que venha a eliminar as empresas privadas do meio econômico e a liberdade individual é falacioso.
Deste modo, argumentos baseados no medo do socialismo não subsistem em um momento atual. Para o historiador Osvaldo Coggiola, professor titular de História Contemporânea do Departamento de História da USP, o medo do Comunismo é infundado hoje em dia: “tem-se medo hoje de uma coisa que não existe mais. O medo que corre atualmente está reduzido a uma expressão mínima da população. O nível de informação aumentou muito se comparado ao tempo que o Comunismo que era editado pela igreja. Naquela época, informavam atrocidade como comunistas comendo criancinhas. Havia pessoas que acreditavam nisso…”.
Acima do debate se o Estado brasileiro é liberal ou social, coloca-se a necessidade de que haja um dirigismo estatal no sentido de que possa criar um ambiente propício para que as empresas voltem a investir com segurança, os trabalhadores retornem aos seus empregos e tenhamos condições de enfrentar os problemas sociais existentes.
Por isso, os governantes deveriam abandonar a ideia de assustar a população acerca de uma infundada revolução comunista e busquem colocar efetivamente os interesses da nação acima dos interesses individuais. A situação exige uma posição construtivista do poder público, de modo que os atos estatais sejam elaborados de forma contínua e direcionados à retomada do desenvolvimento econômico e do bem comum.
Helton Kramer Lustoza
Procurador do Estado
Professor do Curso de Direito da UNIPAR
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