Pecuária
O atual cenário da pecuária nacional, com forte necessidade de globalização, resulta em aumento da comercialização internacional de animais, o que pode gerar a entrada de patógenos – bactérias, fungos, protozoários e vírus, que são capazes de causar diferentes doenças nos animais, como a leptospirose, que é uma importante doença infecciosa da esfera reprodutiva. Preocupada com essa realidade, equipe de pesquisadores da Universidade Paranaense está realizando pesquisa que visa a identificar a leptospirose em bovinos de leite de pequenas propriedades rurais de regiões fronteiriças, com foco no isolamento bacteriano, aspectos sorológicos e caracterização molecular do agente etiológico.
Vinculado ao curso de Medicina Veterinária da Unipar, o projeto se justifica pela manutenção do intercâmbio científico entre o grupo de leptospirose do mestrado e doutorado em Ciência Animal da Unipar, o programa de pós-graduação em Ciência Animal da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa/Portugal. “Estas parcerias possibilitam o fortalecimento desta importante linha de pesquisa, além da qualificação profissional de pós-graduandos (mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos) e também alunos de iniciação científica”, garante a coordenada, professora Daniela Dib, agradecendo o auxílio financeiro que está recebendo do programa de Bolsa Produtividade em Pesquisa do CNPq nível 2 e da Unipar para desenvolver o projeto de pesquisa. A pesquisadora, que é coordenadora do Programa de mestrado e doutorado em Ciência Animal com ênfase em Produtos Bioativos e também professora do curso de Medicina Veterinária da Unipar, diz que essas regiões fronteiriças têm grande possibilidade da entrada de diferentes patógenos por meio da entrada de bovinos trazidos clandestinamente ou não. “A identificação destes patógenos circulantes tem grande importância para a pecuária nacional, servindo como um alerta para possíveis problemas sanitários nos rebanhos e, consequentemente, na saúde pública”, defende. Segundo ela, relacionado à leptospirose, tema do respectivo projeto de pesquisa, a identificação dos diferentes sorvares da Leptospira spp. circulantes nos bovinos presentes nessas regiões é fundamental para o entendimento da epidemiologia local, visto que essa doença pode ocasionar problemas reprodutivos nos bovinos, além de contaminação ambiental e da possibilidade da transmissão para o homem. “A enfermidade é uma importante zoonose de caráter ocupacional que pode ser transmitida para os trabalhadores envolvidos na lida criação”. Com a detecção dessa zoonose, de acordo com a pesquisadora, é possível realizar ações de educação em saúde com produtores leiteiros, a fim de se prevenir a infecção e a possível eliminação do agente etiológico no meio ambiente, propiciando assim menor infecção nas diferentes espécies de animais e também no homem. “A identificação é feita por meio de diagnóstico bacteriológico, sorológico e molecular”, informa. O estudo está em andamento e com o resultado a equipe espera conhecer a real situação e melhor entendimento dessa enfermidade na região de fronteira entre o estado do Paraná e Paraguai (Salto del Guairá), para posterior ações de prevenção e educação em saúde para os produtores envolvidos. Daniela Dib ressalta ainda que, além desse impacto ambiental, o resultado do estudo científico pode trazer um impacto econômico. “Com as instruções fornecidas aos produtores leiteiros espera-se uma redução dos casos da doença no rebanho, proveniente da indicação de aplicação de vacina em todos os animais da propriedade, manejo diferenciado dos animais, controle de roedores e de animais selvagens na propriedade e, principalmente, controle na compra e venda de gado e entrada de animais na propriedade sem conhecimento do status sanitário do animal, visando sempre o aumento da produtividade através da redução de problemas reprodutivos e redução dos gastos com medicamentos”, argumenta.
Na avaliação do coordenador do curso de Medicina Veterinária da Unipar, professor Luiz Sérgio Merlini, “esse levantamento é fundamental para melhoria da saúde única nessa região; também considero excelente a oportunidade que a pesquisa dá para os nossos professores e acadêmicos participarem, aproximando-os da realidade das propriedades estudadas da nossa região”.
Auxílio Acadêmico
Para desenvolver o projeto, a pesquisadora Daniela Dib conta com o auxílio da pós-doutoranda Lidiane Barbosa (bolsista PNPD/CAPES), da doutoranda Melissa Zaniolo (bolsista PROSUP/CAPES), do mestrando Giovani Pastre, além de quatro acadêmicos do curso de Medicina Veterinária e um aluno do ensino médio, que integram os programas de iniciação científica da Unipar. Maria Augusta Bondezan está no quinto ano da graduação e é bolsista do Pebic (Programa Externo de Bolsas de Iniciação Científica) da Fundação Araucária. “Participar do projeto está sendo uma experiência de grande importância para meu aprendizado, pois a pesquisa me leva a conhecer mais sobre a zoonose, além de aprender a realizar o diagnóstico laboratorial e colocar em prática os conhecimentos teóricos do curso”, conta a futura médica veterinária, que já publicou artigos científicos e resumos nesta área. “Além de toda a bagagem adquirida na iniciação científica, ser bolsista do Pebic oportuniza o enriquecimento do meu currículo profissional”, ressalta. Integrante do Pibic (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica), o colega de sala, Marco Aurélio Vecchio, afirma que a pesquisa amplia possibilidades para novos caminhos. “Participar deste projeto não apenas me ensina a trabalhar em equipe, mas também a amar o que faço. E saber que faço parte de um projeto que abre portas para outros pesquisadores é incrível, pois a pesquisa é importante tanto para formação acadêmica quanto para o desenvolvimento de estudos que podem ajudar a população”. São os estudantes que realizam as coletas, os diagnósticos, tabulam os resultados e escrevem os resumos e artigos científicos, essenciais para a formação acadêmica. “Eles são os verdadeiros protagonistas e é por conta desta dedicação e motivação que sou estimulada a buscar ideias novas, protocolos laboratoriais novos e continuar trabalhando de forma plena com o ensino e a pesquisa”, enfatiza a professora Daniela, agradecendo a cada um pelo empenho.