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LUTO

Morre Glória Maria, ícone do jornalismo e pioneira na TV brasileira, aos 73 anos

02/02/2023 10H07

Jornal Ilustrado - Morre Glória Maria, ícone do jornalismo e pioneira na TV brasileira, aos 73 anos

Gloria Maria morreu na manhã desta quinta-feira, (2). A informação foi confirmada pela TV Globo em nota. “É com muita tristeza que anunciamos a morte de nossa colega, a jornalista Glória Maria”.

Diagnosticada com um tumor no cérebro em novembro de 2019, Gloria foi submetida a uma cirurgia emergencial. Depois, emendou o tratamento com a quarentena recomendada devido à pandemia do novo coronavírus e seguiu afastada do trabalho até maio de 2021, quando voltou a TV, vacinada contra a Covid, e dividindo a apresentação do Globo Repórter, com Sandra Annenberg. “Passei um sufoco. Realmente, fui atropelada por um trem assim do nada. Eu, uma pessoa que nunca tive uma dor de cabeça, saudável… De repente, entro em casa, fecho o meu portão, caio, desmaio. Quando vou ver o que é, descubro que estou com um tumor no cérebro. Só isso. Não é para fraco, não”, relembrou em entrevista ao “Altas Horas”, em julho de 2020.

Na ocasião, ela enalteceu e agradeceu todo o carinho que recebeu não só dos amigos, mas também dos fãs. “A energia que as pessoas me mandam é uma coisa que me comove e me faz cada vez mais inteira, porque sem amor não tem vida. Acho que, graças a Deus, se estou viva, é porque a minha vida tem sido feita de amor.”

Referência no jornalismo

Um dos grandes nomes do jornalismo, não só da Rede Globo, mas da TV brasileira, Gloria Maria Matta da Silva nasceu no bairro de Vila Isabel, na zona Norte, do Rio de Janeiro. Filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em colégios públicos até chegar ao ensino superior na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).

Em 1970, deu início à trajetória na Globo ao ser indicada por uma amiga à vaga de rádio-escuta, pessoa responsável por encontrar notícias novas e monitorar a concorrência, cargo importantíssimo nas redações antes da internet. Paralelo a isso, tinha um emprego de telefonista na Embratel, que conciliava com os estudos universitários no curso de Jornalismo.

“O mais extraordinário é a possibilidade que o jornalismo te dá de aprender. É uma profissão em que você tem contato direto com todo tipo de emoção”, defendeu ela — que atuou também no Jornal Hoje, Bom Dia Rio, RJTV, Jornal Nacional e foi âncora do Fantástico — ao falar do amor pela reportagem ao Memória Globo. Recentemente também esteve à frente do Globo Repórter.

Ícone respeitado

Primeira repórter a aparecer ao vivo quando o Jornal Nacional passou a ser exibido em cores, em 1977, Gloria acumula momentos marcantes na carreira, como a cobertura da guerra das Maldivas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).

Ela também contou muita história ao redor do mundo, nas andanças pelos mais de 160 países que conheceu a trabalho. Um exemplo, que já é um clássico, é a viagem à Jamaica, em junho de 2016, que acabou gerando memes divertidos, que fizeram Gloria viralizar.

“Era muito pobre e não tinha dinheiro para conhecer o mundo. Então comecei a viajar pela TV Globo com 16 para 17 anos e fiz do mundo o meu espaço. A primeira viagem foi para Washington, nos Estados Unidos, para cobrir a posse do presidente Jimmy Carter. Não lembro o ano, não tenho ideia”, disse na ocasião, fazendo brincadeira com o grande mistério que rondava a vida pessoal dela: a idade nunca revelada.

E não foram só reportagens sobre momentos históricos e viagens que marcaram a carreira dela. Gloria também entrevistou ícones nacionais, como o Rei, Roberto Carlos – de quem era fã declarada e se tornou amiga – e também internacionais, como Michael Jackson e Madonna, com quem teve uma história de acolhimento e também sorte.

“Eu saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do inglês dela”, relembrou a jornalista ao recordar a conversa com a Rainha do Pop. Nervosa, ela foi avisada que teria apenas quatro minutos para falar com a cantora e resolveu usar a sinceridade em causa própria.

“Eu disse: ‘Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos’”. A estrela virou-se para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo que precisar”, e o resto é a história da entrevista exclusiva que fez para o Fantástico, em 2005.

É com esse amor, que tinha pela vida pessoal e profissional, por meio do carinho dos amigos que fez ao longo dos anos e dos fãs que cativou com trabalho honesto e sincero, que nos despedimos desta referência do jornalismo nacional.