Há três anos
Em 27 de março de 2020 a Secretaria de Estado da Saúde (SESA) confirmava o primeiro caso positivo de covid-19 em Umuarama. Daquele dia em diante o medo e as incertezas pairaram sob a sociedade, até a chegada da vacina. Entretanto, tais sentimentos não tiveram espaço para os profissionais da saúde, que precisaram deixar suas famílias e doar suas vidas para salvar o próximo.
Com mortes ocorrendo em meio ao um cenário de busca de respostas, as primeiras ondas da doença impactaram fortemente a saúde física, mental e emocional de quem atendia na linha de frente das emergências hospitalares. Mas com o passar dos anos, o jornal Ilustrado buscou saber como estão os profissionais que atuaram na época no hospital de referência para covid-19 em Umuarama. Para tal, conversamos com médica clínica Carla Dal Ponte e o médico infectologista Raphael Chalbaud Biscaia Hartmann.
Carla, que era chefe coordenadora da clínica médica, acabou coordenando toda a equipe do Covid-19 no hospital em que trabalhava e se tornou referência para atendimento da doença, em Umuarama. A médica representou a força da mulher na luta contra a doença, deixando filho e esposo em casa, como tantas outras profissionais, enquanto passava horas dentro do hospital junto a pacientes em estado grave.
“Foi um começo muito desafiador no qual todos os profissionais estavam incansavelmente em busca de informações e o melhor atendimento para os pacientes. A pandemia trouxe um número crescente de pacientes em estado cada vez mais grave e por mais que tivesse recurso era insuficiente. Não existia mão de obra e nem condições psicológicas. Falta de leitos, falta de medicamentos e as mortes começaram. Quando relembro de todas as situações, tenho a plena convicção que buscamos fazer o melhor para nossos pacientes, dentro do que era permitido no momento. Conseguimos salvar muitos e outros não demos a mesma sorte. Mas com certeza demos incansavelmente o nosso melhor”, relembrou.
Como médico infectologista também do hospital de referência, Raphael Hartmann lembra que passava mais de 72 horas dentro do hospital e por meses deixou de ver sua família. Foram dias buscando estratégias com a equipe para lidar com o desconhecido e trazer a melhor solução para os atendimentos, procedimentos e medidas de prevenção. “Chegou um ponto que estávamos exaustos, não tinha mais condições, mas a união das pessoas trouxe a força. Claro que teve problemas, pois muitos negaram o que era óbvio, porém a maioria ajudou e isso também fez a diferença”, disse.
Os médicos também lembram dos amigos médicos, enfermeiros e técnicos adoecendo por covid-19 e o temor da morte. Carla foi acometida pelo vírus e Raphael chegou próximo da intubação passando dias internado na UTI, não como médico, mas como paciente. “Graças ao trabalho que estávamos realizando aqui eu sobrevivi, não deixamos a desejar para qualquer centro médico de capitais. Eu acreditava na nossa equipe e no que estávamos fazendo em Umuarama, onde tivemos altas taxas de recuperação dos pacientes”, contou Hartmann.
Neste período, vários nomes conhecidos e não conhecidos da cidade foram levados pela covid-19, que não poupou crianças nem idosos. Só entre o mês de maio e agosto de 2021 foram registradas 140 mortes por covid-19 em Umuarama. Neste período os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estavam lotados em praticamente todas as regionais, além da falta de médicos e medicamentos.
Os médicos lembram que a vacinação foi um dos momentos mais emocionantes da pandemia e foi quando a esperança surgiu. “Depois de muito tempo trabalhando eu senti uma pontinha de esperança e que talvez as coisas poderiam evoluir para um final feliz. A vacinação foi um momento de muita emoção e esperança de dias melhores e graça a ela conseguimos controlar a doença e reduzir o número de mortes”, recordou Carla.
No dia que foi vacinado, Raphael conta que foi o mais feliz da sua vida. Ele se sentiu como um super-herói que recebia seu superpoder. “Se eu não tivesse tomando a vacina provavelmente eu não estaria mais aqui, vacinas são importantes. Todo mundo queria vacinar e não queriam saber se eram ou não testadas. Tivemos os que negaram a vacina e o que me deixa triste é que poderíamos estar produzindo vacina para o mundo, mas desacreditaram de um laboratório de extremamente importância que é o Butantan; poderíamos ser referência. A vacinação é algo importante e o Brasil sempre foi referência”, exclamou Raphael.
O médico ainda ressaltou que é a favor das escolhas, mas as escolhas vão trazer consequências. “Vacinar é mais barato que ficar internado para fazer qualquer tratamento. Não existem contraindicações para vacinas. Uma vacina bem aplicada diminui o fator de risco para gravidade da doença e com isso todos ganham: o paciente e o Sistema Único de Saúde (SUS), pois quem paga a conta é o SUS”, ressaltou.
Os profissionais de saúde viveram na pele situações de uma guerra e mesmo com a sobrecarga física e psicológicas eles acreditam que saíram da pandemia fortificados. “Mudou muito a Carla como pessoa. A pandemia me trouxe mais força, mais garra e mais determinação e prioridades. Valorizo mais as pessoas e momentos. O que é importante na vida é a família, sempre foi prioridade para mim, mas hoje valorizo ainda mais os momentos, a qualidade de vida e saúde”, noticiou Carla DalPonte.
Hartmann lembrou que muitos amigos de profissão ficaram com sequelas profundas e gatilhos mentais, que ainda estão sendo superando. Para ele ainda é difícil retomar toda a parte social. Ainda segundo o infectologista, o que fica mesmo é a necessidade de empatia com o próximo. “A pandemia mostrou que apoio multou foi fundamental para o bom desfecho, principalmente aqui de Umuarama, local que serviu de exemplo para várias outras cidades e hospitais. As pessoas precisam entender que sempre estaremos aqui, para dar o máximo. O ser humano em si é nosso maior bem”, finalizou.
Mesmo com a dificuldade para o avião pousar, devido as condições climáticas, as 3.120 doses do imunizante CoronaVac destinadas para a 12ª Regional de Saúde chegaram em Umuarama na terça-feira (19) de janeiro de 2021. No mesmo dia a Secretaria de Saúde de Umuarama junto com a Regional de Saúde realizaram a abertura da campanha de vacinação, às 19h, com a imunização de seis profissionais da saúde.
A primeira umuaramense a receber a vacina – produzida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan – foi a servidora pública, a técnica de enfermagem Maria da Glória de Souza, a Glorinha, por ser a profissional de saúde com maior idade do município. Ela atua na Unidade Básica de Saúde do Ouro Branco e é servidora do Município desde o ano 2.000.
Em maio de 2021 Umuarama já contava mais de 20 mil pessoas dos grupos prioritários vacinadas com a primeira dose do da vacina contra o coronavírus em Umuarama e 12 mil com segunda dose e foi quando os números da covid-19 em Umuarama começaram a mudar. Mortes relacionadas com idosos acima de 60 caíram drasticamente.
O Brasil registrou quase 700 mil mortes desde o início da pandemia e pouco mais de 38 milhões de infectados. De acordo com dados do Ministério da Saúde, quase 88% dos brasileiros recebeu pelo menos 1 dose de vacina contra covid e cerca de 82% está totalmente imunizado contra o vírus. Em Umuarama desde o início da pandemia 42.148 casos de covid foram confirmados. Neste período foram oficialmente registradas 360 mortes pela doença. O secretário municipal de Saúde, Herison Cleik da Silva Lima, faz um alerta para que as pessoas procurem as unidades de saúde para receber a vacina contra a doença