CORONAVÍRUS
Com as liberações dos decretos restritivos e a redução de casos e mortes de covid-19 no mês entre o segundo semestre de agosto até inicio de setembro, alguns umuaramenses abandonaram as medidas de prevenção à não propagação do coronavírus na cidade. O reflexo do relaxamento começou a aparecer e em apenas 27 dias a cidade registrou cinco mortes e o aumento de mais de 200 casos.
A situação começa a preocupar, principalmente aos trabalhadores da saúde que enfrentam o vírus face a face para salvar vidas. No Paraná, 12 médicos morreram por covid-19. Entre enfermeiros, só em Curitiba e Região Metropolitana, foram 11 mortos.
Na fala do médico infectologista, que atua na linha de frente ao combate a covid-19 no hospital Uoppecan de Umuarama, Raphael Chalbaud Biscaia Hartmann, a pandemia não acabou e o vírus não escolhe suas vítimas. “Sobre a Pandemia o que podemos dizer com certeza, é que ela não acabou. Desde o início este vírus vem mostrando uma variação multifacetada, apresentando desde sintomas gripais a outros sintomas variados, fazendo com que a gravidade da doença não se apresente de forma linear, ou seja, foge do convencional”.
Atuando desde o inicio da pandemia, junto aos pacientes com covid-19, o médico concedeu uma entrevista ao jornal Umuarama Ilustrado e alertou a comunidade de Umuarama que o momento é frágil e existe a necessidade de manter as medida preventivas.
Umuarama Ilustrado: Qual o comportamento do coronavírus na cidade após meses circulando?
Raphael Hartmann: “Este vírus, como os demais vírus já vistos pela humanidade vem sofrendo processos de adaptações na população. Esse processo é sempre desconhecido para a ciência, pois não sabemos o rumo correto que tomará devido à imprevisibilidade destas adaptações. O fato é que o vírus continua ativo e recentemente vem atacando não somente a população mais idosa e com comorbidades, mas também os mais jovens e crianças com maior gravidade”.
Umuarama Ilustrado: Existe a possibilidade de uma pessoa ter a reinfecção?
Raphael Hartmann: “Há poucos dias estão sendo verificados em todos os Estados casos de reinfecções, ou seja, a pessoa já teve o coronavírus e está tendo novamente depois de um período. Alguns estudos já diziam que a imunidade sobre este vírus era muito frágil e agora estamos observando que é real a possibilidade de algumas pessoas contraírem a doença uma segunda vez”.
Umuarama Ilustrado: Existe um remédio para o tratamento da covid-19?
Raphael Hartmann: “O cenário traz uma preocupação redobrada, pois a capacidade de perpetuação deste vírus está sendo grande e a ciência ainda não tem as respostas sobre um remédio que trate especificamente só o vírus. Não existe remédio até o momento que elimine o vírus. Não é como o H1N1 que existe um remédio específico. Tudo isto é muito novo e as pesquisas avançam, mas a população de uma maneira geral não pode descuidar neste momento tão frágil com risco de propagar ainda mais o vírus. O que é comprovado é que a proteção com o uso de máscara salva a vida das pessoas, assim como distância social (não aglomerar) e a higiene das mãos”.
Umuarama Ilustrado: Qual o perfil do paciente que chega no hospital em Umuarama?
Raphael Hartmann: “Os pacientes têm entrado no hospital com uma gravidade enorme devido ao comprometimento que o vírus causa. As equipes de saúde em todos os níveis de atendimento estão no seu máximo para dar os cuidados necessários. Mas ressalto que quem está ali dando assistência também é um ser humano e também pode ficar doente”.
Umuarama Ilustrado: Podem faltar profissionais para tratar a comunidade?
Raphael Hartmann: “Com esse aumento do número de exposições, aumenta o número de casos e mesmo que haja estrutura física nos hospitais, as equipes estão ficando sobrecarregadas. E não temos como repor um profissional toda vez que este adoece, pois não há material humano suficiente para que possamos ir substituindo. Ou seja, uma hora o colapso não será por falta de vagas, mas sim por falta do profissional (caso este adoeça)”.
Umuarama Ilustrado: Qual o papel da população frente ao combate ao coronavírus?
Raphael Hartmann: “Países como Japão e Suécia tem o enfrentamento ao coronavírus de forma aberta, porem mantém as regras rígidas sobre máscara e distanciamento social e isso mostrou que funciona. Neste momento, como seres humanos, para demonstrar que temos amor e respeito pela vida, ainda precisamos continuar esta luta até a medicação ou a vacina chegar. Demonstrar o amor e solidariedade é respeitar o outro. Use máscara, mantenha o distanciamento e higienize as mãos. Isso sim é o amor pela vida e maior arma contra o vírus da covid-19”.
Umuarama Ilustrado: Qual recado daria para a comunidade de Umuarama?
Raphael Hartmann: “Jovem, você que gosta de sair e aglomerar; você pode ser portador assintomático e acabar levando o vírus para casa e infectar seus pais, ou ainda, infectar alguém que poderá levar para o avô ou avó e que acabarão morrendo, tudo isso, pela sua imprudência de não respeitar o outro”.
“Vemos muitas pessoas circulando com máscara para baixo do nariz, no queixo, mulher grávida indo no mercado ou pais levando criança junto, mas este ainda não é o momento para isso. As pessoas precisam redobrar cuidados, principalmente com as crianças que hoje são motivo de preocupação”.