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SAÚDE

Médica de Umuarama falará sobre autismo para deputados na Câmara

25/09/2023 14H57

Jornal Ilustrado - Médica de Umuarama falará sobre autismo para deputados na Câmara
A pediatra Leslye Sartori Iria se tornou referência no autismo a partir de uma experiência pessoal com a filha (foto divulgação)

Umuarama – A pediatra Leslye Sartori Iria será uma das palestrantes do seminário “Políticas Públicas de Inclusão de Pessoas com Transtorno do Espectro Autista”, na Câmara dos Deputados, em Brasília/DF. O evento, organizado pela Comissão de Saúde do Parlamento, será na próxima quarta-feira (27) e reunirá especialistas considerados referências no assunto de todo o país.

O seminário é uma iniciativa da SUBTEA – subcomissão da Câmara para tratar de assuntos relacionados ao autismo. Durante todo o dia serão discutidos temas como saúde, educação, esportes, tecnologia e direitos. A sessão está marcada para às 9h e poderá ser acompanhada pela TV Câmara ou também pelo Portal da Câmara, no endereço eletrônico www.camara.leg.br/tv.

Mãe de uma criança com autismo e atuante na área do desenvolvimento infantil, a médica umuaramense pretende compartilhar a experiência adquirida em seu consultório e também ao observar as necessidades da região. “É uma honra muito grande para mim falar sobre um assunto que me toca de todas as formas. Aprendi nos últimos tempos que os sonhos que temos para o desenvolvimento das crianças com autismo só se tornarão realidade se discutirmos isso com toda a sociedade e essa é uma grande oportunidade”, explica.

DIAGNÓSTICO PRECOCE

Em seu momento de fala, a médica pretende abordar o papel do pediatra no diagnóstico precoce do autismo. “O Brasil é um país de escala continental que tem realidades diferentes no atendimento a crianças com autismo, inclusive em nossa região. Famílias esperam meses por uma consulta. Durante essa espera, muito tempo se perde e o tempo é fundamental para o desenvolvimento de uma criança dentro do espectro”, explica.

Para a médica, o consultório do pediatra pode fazer a diferença para que o autismo seja diagnosticado e tratado o quanto antes. “Antes de chegar a qualquer outro especialista, a criança passou muitas vezes pelo consultório de pediatria. Hoje tenho essa certeza: o pediatra é a pessoa certa no tempo certo para identificar os primeiros sinais de autismo, aplicar testes de triagem que já são preconizados pelo Ministério da Saúde, orientar a família e fazer os encaminhamentos necessários. Por isso, é necessário que os especialistas dessa área sejam capacitados” diz.

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Leslye entende que o papel do pediatra é fundamental para identificar precocemente o autismo (foto divulgação_

DIAGNÓSTICO DA FILHA MUDOU FORMA DE ENXERGAR O AUTISMO

Além de apresentar dados, Leslye pretende compartilhar sua experiência como mãe e pediatra.  “Na faculdade de medicina e residência aprendi muitas coisas. Diagnosticar e tratar o autismo, com certeza, não foi uma delas. Eu confesso que acreditava na maior mentira que temos dentro do desenvolvimento infantil, a de que cada criança tem seu tempo. Infelizmente só ao observar o atraso dos meus filhos percebi que há um tempo certo para tudo”, compartilha.

Mãe dos gêmeos Theo e Isadora, Leslye percebeu logo nos primeiros meses de vida que algo não estava certo. “Eu os comparava. Cheguei a pensar que minha filha não gostava de mim, pela dificuldade em se comunicar comigo, que é uma das características clássicas do TEA”.

A própria médica decidiu agir. “Eu coloquei minha filha em intervenção precoce – as terapias. A partir dos dez meses, ela ia a sessões de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia. Eu ouvia estava sendo exagerada e deveria aguardar o tempo dela. Esse suposto exagero fez a Isadora melhorar antes mesmo do diagnóstico, que chegou quando ela tinha um ano e quatro meses. Hoje eu vejo que esse tempo da criança é uma falácia e existe um tempo certo para tudo. É por isso que eu sonho que todas as crianças tenham essa mesma oportunidade”, defende.

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AUTISMO VIROU MODA?

Se há alguns anos, era incomum conhecer uma criança com autismo, hoje a situação é bem diferente. De acordo com informações do CDC (Centro de Controle de Prevenção e Doenças), a proporção de crianças com autismo nos EUA é de uma a cada 36 até 8 anos de idade.  “Eu vejo muita gente falando que autismo está na moda. Na verdade, autismo sempre existiu. O que nós temos agora é um aumento nas pesquisas sobre o TEA, mais ferramentas para identificá-lo e profissionais capacitados para isso. Mas sem dúvida, precisamos avançar”, opina.

CONHECIMENTO É LIBERTADOR

A partir do diagnóstico da filha, a pediatra mudou o foco da vida e carreira. ““Eu não escolhi o autismo, mas ele escolheu a minha família com o diagnóstico da minha Isadora. Nesse processo doloroso, mas também libertador, estudar sobre esse estranho desconhecido fez a diferença, não só para o desenvolvimento da minha filha, mas para todos os meus pacientes. Hoje eu luto não só pela minha Isadora, mas para que todas as crianças tenham acesso ao diagnóstico e intervenções precoces”, explica.

O DIAGNÓSTICO NÃO É O FIM

Com a certeza de que os casos de autismo vão aumentar ainda mais, a médica revela o desejo de uma mudança estrutural na área da saúde. “Não é preciso esperar que o autismo bata à porta para entender que precisamos mudar a forma de olhar o TEA. Podemos ser agendes de transformação na vida de muitas famílias que batem de porta em porta em busca de uma resposta. Na dúvida, precisamos iniciar a investigação, colocar a criança numa intervenção precoce e fazer os encaminhamentos necessários. Dessa forma, a chance de errar é minimizada e a oportunidade de fazer a diferença aumenta.

Aos pais, ela faz uma orientação. “Ninguém conhece melhor uma criança do que quem convive com ela. Se você suspeita que há algo errado, investigue! Já para quem tem um filho com diagnóstico, eu digo como mãe: ele não é o fim, mas sim um mar de possibilidades que se abre para que nossos filhos evoluam”, finaliza.