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Marcelo Bertasso parabeniza Umuarama Ilustrado: “Um cinquentão que se renova”

05/08/2023 06H01

Jornal Ilustrado - Marcelo Bertasso parabeniza Umuarama Ilustrado: “Um cinquentão que se renova”

O ano era 1973. O Brasil caminhava para o fim da primeira década de governo militar e vivia emoções contraditórias. O déficit de democracia era compensado por sucessivos superávits do chamado milagre econômico.

No sul do Brasil, o florescente Estado do Paraná ganhava corpo e identidade com a colonização de seu noroeste, suas cidades planejadas e sua pujança agrícola. Na então pequena cidade de Umuarama, nascia um filho querido: vinha ao mundo o Ilustrado.

Não eram tempos fáceis para um jornal. Não era tudo o que podia ser dito ou publicado. Nas redações, não havia somente jornalistas. Chamavam isso de censura. Era preciso habilidade para sobreviver naquele cenário hostil.

Localmente, o contexto também era desafiador. A distância dos centros desenvolvidos e os grandes custos de operação de um jornal fizeram com que o Ilustrado tivesse uma infância atribulada. Para piorar, prestes a completar dois anos, o periódico teve que noticiar a geada negra, fenômeno que afetou drasticamente a economia e a sociedade do noroeste.

Mas aquela criança em tenra idade foi se adaptando. Cumpria seu papel com maestria. Naquela época, somente se conseguia acesso a informação lendo jornais ou ouvindo rádio. O Ilustrado tinha uma função importante: fazer chegar aos rincões as notícias da região, do Brasil e do mundo.

Aos doze anos, já pré-adolescente, foi apresentado a um novo personagem: chamava-se democracia e trazia muitas mudanças. Pela primeira vez desde que nasceu, o Ilustrado passou a viver num regime em que o povo poderia escolher seus governantes. Parecia bom, mas não era tão simples.

Três anos depois, um novo projeto de país nos era apresentado: o Brasil ganhava uma nova Constituição. Pautada na democracia, na liberdade e em responsabilidade social, ela trazia grandes conquistas. Junto com elas, vinham novas responsabilidades: a imprensa agora podia cumprir seu papel plenamente, mas ganhava uma função de fiscalização.

Não bastava só informar: era preciso investigar, pesquisar, levar à população aquilo que estava guardado nos porões, perguntar aquilo que as autoridades não queriam responder. O Ilustrado, uma vez mais, adaptou-se.

O fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 trouxe um choque de realidade: recessão, desemprego, desesperança. A conta do milagre chegara (ela sempre chega). Essas fases são importantes na vida de uma pessoa, porque crescimento não se faz sem dor. E o Ilustrado, prestes a completar seus 20 anos, estampou em suas páginas essa transformação social.

Foram vários os presidentes (Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro) e os planos econômicos (Sarney, Bresser, Verão, Cruzado, Collor I e II e Real). O Ilustrado os acompanhou a todos. Explicou o que acontecia, analisou as repercussões de cada fato.

Para além do avanço histórico natural, algo começava a se desenvolver nos bastidores: um negócio chamado tecnologia. Uns sujeitos estranhos, que trabalhavam em garagens na Califórnia, começaram a inventar umas máquinas interessantes.

Primeiro, vieram os computadores, que substituíam bem as máquinas de escrever. Logo que o Ilustrado chegou aos 30, falaram de uma tal internet: resolveram colocar em rede – uma rede mundial, quem imaginaria? – esses computadores. O jornal foi não apenas noticiando isso, mas incorporou as tecnologias e se beneficiou delas, aprimorando suas edições.

Aí veio a crise dos 40: lá pelos idos da década de 2010, aqueles sujeitos da Califórnia não eram mais esquisitos, tampouco trabalhavam em garagens. Tinha fundado enormes corporações que apresentaram ao mundo as telas. Sim, mais ou menos como as de televisão, a que nos acostumamos rapidamente, mas agora eram finas, pequenas e portáteis.

Delas vieram os smartphones e tablets, aparelhinhos que podíamos levar nos bolsos e traziam o mundo dentro deles: permitiam falar com amigos, ver filmes e séries e, também, ler jornais e revistas.

Como em toda crise dos 40, o Ilustrado sofreu. Começou a questionar seu papel no mundo e sua utilidade. O que seria da imprensa escrita, agora que todos podiam acessar notícias pelo celular? Teria chegado ao fim a breve vida desse querido periódico?

A maturidade mostrou que não. Primeiro: o Ilustrado é um sujeito dinâmico, gosta de novidades e correu incorporá-las. Logo se colocou on line e passou a compartilhar seu conteúdo pela tela. Mas seguia a angústia: e a versão em papel, o que seria dela?

Foi aí que veio o vislumbre. Foi aí que aquele quarentão achou dentro de si um valor que não sabia que tinha. É que ler um jornal ou livro físico não é apenas uma tarefa banal, mas uma atividade que encerra valores, valores esses que se tornam cada dia mais relevantes.

Não é que as telas sejam ruins, pelo contrário, elas estão mudando o mundo. Mas começamos a perceber que telas em excesso fazem mal: trazem ansiedade, desatenção, impaciência.

Em outro plano, com a disseminação das redes sociais e plataformas de conteúdo, surge outro efeito colateral: as fake news. Não é porque está na internet que é verdade. É que qualquer pessoa pode facilmente criar um site e propalar por aí o que entende que é correto – e nem sempre é. Como disse Humberto Eco: “a internet deu voz a uma legião de imbecis”.

E foi então que voltamos a reparar naquele quarentão que os mais afoitos acharam que estaria com os dias contados. Passamos a lembrar como é bom abrir o jornal pela manhã, folheá-lo, ler com calma. Percebemos quanto o jornal é confiável, produzido com qualidade, esmero.

Estabeleceu-se então a distinção: na tela, consumimos notícias; no impresso, degustamos informação. Podemos ler nosso jornal com calma, sem ser interrompidos por notificações frequentes. Quem abre o jornal está se propondo a ler a matéria do começo ao fim. No smartphone, rolamos a tela eternamente para baixo, vendo apenas títulos. Quando muito, abrimos uma ou outra matéria, lemos o início e passamos para a próxima.

E foi assim que nosso Ilustrado chegou aos cinquenta anos: mais seguro de si, cônscio de suas qualidades e valores. E também mais moderno, flexível, pronto para atender todos os tipos de demanda. Porque esse cinquentão sabe que são poucos os que passaram pelo que ele passou e que experiência, solidez e confiança são ativos importantíssimos numa sociedade cada vez mais líquida e fugaz.

Que os próximos 50 anos venham com a mesma intensidade, que sejam propícios a mais aprendizados e que tornem nosso periódico ainda mais sofisticado e desenvolvido. O Ilustrado não é apenas uma pessoa, mas uma instituição do noroeste paranaense. Vida longa ao Ilustrado!

Por Marcelo Pimentel Bertasso, Juiz de Direito