Relembrando
Com a entrada da novela “O Bem Amado” no catálogo do Globoplay, os fãs do ator podem conferir sua atuação impecável como Zeca Diabo
Lima Duarte não é só um dos mais conhecidos atores brasileiros, mas é também um dos mais queridos e lembrados pelo público em geral, ainda mais agora que sua magistral atuação como Zeca Diabo em “O Bem Amado” pode ser conferida no Globoplay. Aliás, foi essa atuação que deu fama nacional ao ator e o personagem ainda é lembrado como um ícone da televisão brasileira, mesmo depois de quase 50 anos de sua primeira aparição.
“O Bem Amado”, a novela de 1973, que marcou a história como o primeiro folhetim em cores do Brasil e o primeiro a ser comercializado internacionalmente pela Globo, segue como uma obra atemporal. Escrita por Dias Gomes, a trama começa com o corrupto e demagogo Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), que se candidata a prefeito de Sucupira e se elege com o slogan “Vote em um homem sério e ganhe um cemitério”. O problema é que ninguém morre para que a obra seja inaugurada. Por isso, o prefeito resolve consentir a volta do matador Zeca Diabo (Lima Duarte) à cidade com a garantia de que ele não será preso. A esperança é que ele lhe arranje um defunto.
O prefeito só não esperava que Zeca Diabo voltaria a Sucupira disposto a nunca mais matar ninguém, pois quer virar um homem correto. Odorico tem como aliadas as irmãs Cajazeiras: Doroteia (Ida Gomes), Dulcineia (Dorinha Duval) e Judiceia (Dirce Migliaccio), que mantêm relacionamentos amorosos com o prefeito sem desconfiarem umas das outras e Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), seu fiel secretário pessoal.
“O autor, Dias Gomes, era um crítico profundo e inteligente. A novela tinha personagens maravilhosos, tipos profundos, muito bem compostos e o povo se apaixonou”, recorda o ator Lima Duarte, que fez sua estreia em novelas da Globo interpretando o Zeca Diabo.
“Eu inventei todo esse jeitinho dele de falar com as pessoas. Na época, eu fui na figurinista e disse que iria arranjar a roupa. Fui em um tintureiro na Estação da Luz, em São Paulo, onde consegui um terno escuro. Depois, fui em um churrasco de um amigo em Sorocaba e um dos convidados tinha um chapéu. Achei que seria um bom chapéu para o personagem, um matador que não mata”, Lima recorda, saudoso, e agradece: “Foi a primeira novela que fiz na Globo e, graças ao Zeca Diabo, não saí mais dela e nem também do imaginário brasileiro”.
Assim que pandemia der uma trégua, Lima Duarte volta aos Estúdios Globo para gravar sua participação na nova temporada de “Aruanas”.
Nascido Ariclenes Venâncio Martins, no dia 29 de março de 1930, no vilarejo de Desemboque, perto de Uberaba, em Minas Gerais, aos dezesseis anos migrou para São Paulo a bordo de um caminhão de mangas. O seu primeiro trabalho na capital paulista foi de carregador de frutas.
Naquela época já queria ser ator; arrumou um trabalho de sonoplasta na Rádio Tupi e foi lá que conheceu o grande Oduvaldo Vianna que o convidou para fazer um caipira numa de suas radionovelas, mas precisava mudar de nome: nascia o ator Lima Duarte. Seu saudoso amigo, o autor Cassiano Gabus Mendes o homenageou ao batizar de Ariclenes um dos protagonistas da novela “Ti-Ti-Ti” de 1985, interpretado por Luiz Gustavo.
Somente na Rádio Tupi foram 26 anos e teve direito a participar do programa inaugural da televisão brasileira em 1950, quando estreou a TV Tupi.
A estreia no teatro aconteceu em 1961, no espetáculo “O Testamento do Cangaceiro”, de Chico de Assis. Por esta sua atuação, ganhou o Prêmio Saci e uma bolsa de estudos em Nancy, na França. Com a cara e a coragem, partiu para a Europa e ficou por lá até o ano seguinte.
De volta, continuou trabalhando no teatro e paralelamente atuou na primeira e até então única novela bíblica da televisão brasileira, “O Rouxinol da Galileia”, de Júlio Atlas, em 1965. Ainda na TV Tupi, trabalhou também como diretor de novelas.
No ano de 1972, Lima Duarte fez seu primeiro trabalho na Globo, em “O Bofe”, que amargou baixos índices de audiência. No entanto, pouco tempo depois, em “O Bem Amado” teve a oportunidade de interpretar um dos seus mais célebres personagens, Zeca Diabo, consagrando-se como um dos maiores atores brasileiros. E desde então, foi um sucesso atrás do outro, dos quais não poderia deixar de ser lembrado o Sinhozinho Malta, de “Roque Santeiro” em 1985, pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Ator da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).
Junto com seu trabalho na televisão, Lima Duarte é figura presente no cinema nacional em dezenas de filmes, premiado em vários festivais; o seu filme mais recente é “O Juízo”, de 2019.
Para quem não sabe Lima Duarte também foi dublador. Nos anos de 1960 emprestou sua voz a célebres personagens famosos de desenhos animados dos estúdios Hanna-Barbera, como o gato Manda Chuva, o jacaré Wally Gator e o cão Dundum (parceiro da Tartaruga Tuchê).
Na televisão contabiliza um punhado de trabalhos, entre novelas e outras produções.
O ator Lima Duarte sempre preservou sua vida pessoal. É pai da talentosa atriz Débora Duarte, avô da renomada atriz Paloma Duarte e têm outras duas netas, Daniela e Vera, outras duas filhas de Débora.
Ele não nega que adora sua família e nem pensa em parar de trabalhar. Tem fôlego e talento de sobra.