31/08/2021
Eliseu Auth
Já pedi que o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” não levasse a mal o assunto pesado e doloroso que abordava. Não queria, mas tenho que me desculpar de novo, ainda que o verdadeiro culpado disso seja a fala do Presidente. Disse ele: “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Daí tem um idiota que diz ´ah, tem que comprar feijão. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”. (Sic – Folha de São Paulo – A4 – 28.08.21).
Certamente, estou entre os “idiotas” que Bolsonaro ironizou. Prefiro comida na mesa em vez de armas na cinta ou fuzil em casa. Aliás, ele devia saber que fuzil é arma restrita ao Exército e às Forças de Segurança. Não pode ser comprado por cidadãos, onde ninguém é “idiota” por não querer armas. As autoridades e só elas podem comprar fuzis para os organismos encarregados da segurança da Nação. E mais: é sabido, público e notório que a proliferação de armas entre as pessoas dá em mais crimes e mais mortes. Que falem os anais dos foros e os entendidos em segurança pública. Armas açulam o braço da violência e do destempero, expondo todos os cidadãos ao humor de quantos convivem nas Escolas, ruas, rodovias e nos botecos da vida. Ali estamos todos nós, estão nossos filhos, nossos amigos e nossos sofridos concidadãos.
Se a fala do Presidente quis realçar o direito à liberdade de cada um, é preciso lembrar que não há direitos ilimitados do indivíduo numa sociedade. Isso daria na mais espúria das anarquias. Nestas, o direito da força se sobrepõe à força do Direito e da lei que protege a todos. O jargão é antigo, mas verdadeiro: “O meu direito termina onde começa o direito do outro”. Assim é a vida em sociedade. Quem liberta um povo é a Educação, a pesquisa e a ciência. Fuzil não. Precisamos de paz, desenvolvimento sustentável, educação para todos, respeito à diversidade, emprego, ordem e progresso. Fuzil não!
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).