Fé
Católicos passaram por quarenta dias de reflexão e abdicações em busca do aprimoramento dos sentidos e do desenvolvimento espiritual. Este foi o tempo da quaresma, período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã. Tudo isso para hoje, no domingo de Páscoa, reconhecer a essência do Jesus ressuscitado.
Na visão do padre Carlos Alberto de Figueiredo, Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Páscoa é dia da ressurreição. Dia em que se morrer para o pecado e nasce para uma vida nova. “Neste período nascemos para os ensinamentos do Cristo. Podemos passar por muitas mortes neste mundo, mas sempre existe a promessa de Deus, pois Cristo vive em cada um”, disse.
Ainda segundo padre Carlos, nascer para os ensinamentos de Jesus é principalmente fazer o bem ao próximo. “Toda vez que faço o bem em nome de Jesus, estou fazendo ações da vida nova. Toda vez que perdoou estou na vida nova. Viver os ensinamentos não é algo de outro mundo, é possível experimentar os ensinamentos de Jesus. Jesus não pode ser só uma ideia, tem que ser uma experiência como uma pessoa real e concreta”, explicou o entrevistado.
Em sua última entrevista ao jornal Umuarama Ilustrado, o bispo Dom João Mamede, ressaltou que o tempo de quarenta dias que precede a Semana Santa era voltado para pessoas que se convertiam à pregação dos Apóstolos. Após convertidos e passarem pela catequese, vinha o momento da concentração e preparação, para na noite de Páscoa receberem o batismo e assim realizarem a passagem e serem aceitos na comunidade.
“Mas percebemos (Igreja) que todos nós possuíamos espaços que necessitavam de conversão, então a Quaresma foi instituída para todos. Nesse momento podemos outra vez passar pelos conhecimentos e reassumimos nossa fé”, explicou.
Esse e outros atos litúrgicos servem como processo para os religiosos receberem os ensinamentos de Cristo. Por ser um processo evolutivo, a ideia é que em cada momento as pessoas consigam clarear e assimilar os princípios cristãos, explicou Mamede. “A liturgia é um exercício para as pessoas fazerem essa passagem e viverem além do material, enxergar além das coisas, como simples coisas”, disse.
Para isso existem alguns exercícios a fim de desafiar os católicos à, conforme as palavras do Bispo, colidir com a essência de Deus na celebração do Domingo de Páscoa. “A pessoa precisa aguçar seus censores adormecidos para sentir Deus. Por isso somos convocados à oração, ao jejum e a esmola”, contou.
Segundo o líder religioso, a oração é o momento para se expor a Deus para ele conduzir seus atos. Já o jejum serve para acalmar os instintos materiais e deixar aflorar os censores da alma. “Jejum é comer menos, gastar menos com bens materiais, com divertimento e outros prazeres do mundo. Logo, economizamos para ajudar a quem precisa. Dessa forma reativamos nossos sensores adormecidos para na vigília pascal, darmos uma colisão com o ressuscitado”, ressaltou.
Utilizando das figuras de linguagem, como um bom escritor, Dom João tenta, com experiências próprias, simplificar a necessidade de minimizar os impulsos corpóreos ligados ao primitivo para, posteriormente, acender a essência da alma, como forma de elevação humana. “O exercício da Quaresma é meditação profunda rumo ao conhecimento da alma. É se desprender da matéria, do produto, do dinheiro. Uma pessoa com fé, desapegada, tem é um alargamento do coração. Quem não tem fé, o coração é estreito e vê as coisas, só como coisas”, exclamou.
Na madrugada do Domingo de Páscoa, com saída do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, às 5h, padre Carlos Figueiredo vai conduzir uma caminhada até o Monte Sião, próxima ao Jardim Irani e ao Lago Tucuruvi, onde o grupo realizará oração e cantos em conexão a ressureição de Jesus Cristo. Por volta das 7h15 o grupo retorna para o santuário, onde será realizada a missa de Páscoa às 8h.