Umuarama

INFORME UEM AGRÍCOLA

Braquiária: potencial para o controle de nematoides no Arenito

21/06/2020 07H36

Professora Dra. Claudia R. Dias Arieira

Nematologista

Depto de Ciências Agronômicas, UEM – Umuarama

A braquiária é uma cultura muito difundida na região do Arenito e compõe o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), possibilitando o cultivo de soja em áreas de baixa fertilidade. Esta cultura traz inúmeros benefícios ao sistema agrícola, incluindo melhorias nas características químicas e físicas do solo e aumento na atividade microbiana.

Outra característica que torna a braquiária uma importante opção no sistema ILP é o fato dela ser resistente a vários nematoides importantes para a soja, sendo considerada redutora de nematoides das galhas (Meloidogyne spp.), do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e do nematoide de cisto (Heterodera glycines), sendo os dois primeiros, muito comuns na região noroeste do Paraná.

Por outro lado, o uso da braquiária em áreas de cultivo de soja, tem uma limitação: a planta é suscetível ao nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).

Assim, duas perguntas são frequentes quanto de trata de ILP: 1) Posso cultivar braquiária em áreas com P. brachyurus? 2) O que posso fazer para minimizar os problemas oriundos do sistema?

Para responder a primeira questão, precisamos avaliar o cenário do Arenito: quando a cultura principal é a soja, a cultura de sucessão (safrinha) é o milho ou a braquiária. Apesar do braquiária ser suscetível ao nematoide das lesões, o milho tende a multiplicar muito mais o parasita. Traduzindo em números, a braquiária aumenta de 1,5 a 4 vezes a população do nematoide, enquanto o milho de 5 a 15 vezes. Isto mostra que, apesar da braquiária ser suscetível, pode ser uma opção melhor que o milho.

Soma-se a isso, o fato da braquiária melhorar a matéria orgânica do solo, que influencia diretamente na fertilidade e na produtividade da soja plantada em sequência. Isto pode ser evidenciado na Figura 1, na qual, apesar da braquiária aumentar o nematoide, houve ganho em produtividade. Mas, se a população de nematoide na área for muito alta, poderá impactar negativamente na soja. Assim, vem a resposta para a segunda pergunta, ou seja, como minimizar o problema?

Jornal Ilustrado - Braquiária: potencial para o controle de nematoides no Arenito
Figura 1. População de Pratylenchus spp. e produtividade de soja em áreas de cultivo de soja com sucessão de milho, ILP implantado de 1 a 4 anos, e ILP com mais de quatro anos.

Aqui, uma das melhores opções é associar ILP com controle biológico. Bons resultados têm sido obtidos com o tratamento de sementes de braquiária com bactérias do gênero Bacillus (Figura 2). Neste método, as bactérias diminuem o número de nematoides que penetram a raiz da braquiária, reduzindo sua reprodução.

Jornal Ilustrado - Braquiária: potencial para o controle de nematoides no Arenito
Figura 2. Número de Pratylenchus brachyurus em braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis) tratada com Bacillus spp., com redução de 63% do nematoide.

Contudo, é importante ressaltar que o tratamento biológico deverá ser repetido na cultura da soja, já que, no solo, a quantidade de organismos que compõe o produto biológico tende a reduzir ao longo do tempo. Outra opção com bons resultados, é a aplicação de fungos antagonistas (exemplo: Purpureocillium lilacinum e Pochonia chlamydosporia) na semeadura da soja, visto que, o aporte de matéria orgânica gerado pela braquiária poderá servir como alimento para esses fungos, que se mantem vivos, até a chegada do nematoide.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que, a braquiária é fundamental para a produção de soja no Arenito, viabilizando boa produtividade em solos arenosos e de baixar fertilidade. Porém, requer alguns cuidados em áreas infestadas por Pratylenchus brachyurus, cujo sistema precisa ser monitorado, a fim de evitar aumento na população do nematoide e redução de produtividade. Nestes casos, o controle biológico poderá ser um bom aliado. Por fim, em caso de populações mais elevadas, recomenda-se o uso de uma planta antagonista, como crotalária.