Umuarama

SEM REDE DE ESGOTO

“Estamos abandonados no meio da merda”, gritam moradores do Jardim Ipê, em Umuarama

10/02/2025 09H57

Jornal Ilustrado - "Estamos abandonados no meio da merda", gritam moradores do Jardim Ipê, em Umuarama

Um grupo de moradores dos Jardins Ipê e Acácia se reuniu na casa de Ivanilza Avanço na tarde da última quarta-feira (5) para um bate-papo com a equipe do Umuarama Ilustrado. A atmosfera não era de confraternização, mas de desespero. Os relatos eram uníssonos: eles estavam vivendo um verdadeiro pesadelo.

“O sonho da casa própria virou um tormento”, desabafou Suellen Paula de Andrade Costa, de 35 anos, funcionária do setor financeiro de uma cooperativa agroindustrial. Morando há apenas um ano na Rua Osvaldo Cruz, no Jardim Acácia, ela e a família enfrentam uma rotina insuportável. “Tem que controlar a descarga. Se der uma pressão maior, retorna fezes pelo banheiro. A casa inteira cheira a esgoto”, conta.

A pequena fossa da casa de Suellen, com menos de um metro e meio de profundidade, enche rápido e transborda. A solução? Contratar um serviço particular de limpeza, que pode custar até R$ 800 por mês. “Isso pesa demais no orçamento. E não é luxo, é necessidade”, diz, indignada.

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Sobrevivência diária

Ivanilza Avanço, de 47 anos, mora no bairro há 15 anos e viu o problema crescer com o tempo. “Já abrimos três fossas e nenhuma aguenta. Em 15 dias estão cheias de novo”, lamenta. Segundo ela, o prazo para a Prefeitura enviar o caminhão limpa-fossa pode chegar a 30 dias, tempo suficiente para o esgoto invadir o quintal e chegar dentro de casa. “Usar o banheiro virou um dilema. Ao tomar banho, precisamos esperar a água suja baixar para outra pessoa poder usar”, conta, à beira das lágrimas.

As consequências são severas. Crianças brincam entre poças de esgoto, o cheiro é insuportável e, para completar, bichos saem dos ralos. “Cheguei do trabalho e minha casa estava infestada de larvas da fossa”, relata uma das moradoras.

Outros vizinhos também convivem com ameaças de desabamento. “O chão da minha casa está afundando. Recebi notificação da Defesa Civil dizendo que preciso arrumar, mas como, se o problema é a falta de rede de esgoto?”, questiona um morador, inconformado.

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“Nunca vieram ver de perto”

Os moradores denunciam a omissão dos políticos. “Vamos atrás dos vereadores, mas eles nunca pisaram aqui para ver a situação. Queremos que venham olhar as casas, ver como vivem famílias com crianças pequenas. Não estamos pedindo luxo, apenas dignidade”, protesta Ivanilza.

O apelo é claro: “Estamos abandonados no meio da merda! Queremos uma resposta porque já não aguentamos mais”, clama uma moradora.

O que diz a Sanepar

A Sanepar informou que os projetos para implantação da rede de esgoto nos bairros Ipê e Tarumã já estão prontos, e foi firmada uma parceria com a Prefeitura para a execução das obras. No entanto, os prazos ainda estão indefinidos.

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura declarou que o tempo estimado para atendimento do caminhão limpa-fossa é de até sete dias e que, atualmente, apenas um veículo está disponível para toda a cidade e distritos. Recentemente, o equipamento ficou inoperante devido à manutenção.

De acordo com o município, o prefeito Fernando Scanavaca esteve nesta semana em Curitiba, onde solicitou a antecipação das obras de esgoto, previstas para 2028, para 2025 e 2026. A decisão aguarda análise da Sanepar. O investimento estimado é de R$ 11 milhões. Enquanto isso, a Prefeitura pretende contratar um segundo caminhão limpa-fossa para minimizar os problemas.

O presidente da Câmara de Vereadores, Luiz Antônio, afirmou que estará cobrando soluções e se colocou à disposição da população.

Reunião marcada

Intermediada pelo jornal Umuarama Ilustrado, uma reunião entre moradores, Prefeitura, vereadores e Sanepar está agendada para a próxima terça-feira (11), às 16h, no anfiteatro da Prefeitura.

“Esperamos, enfim, sair do abandono e recuperar a dignidade que nos foi tirada”, finalizou os moradores.

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