Umuarama

NÃO ERA PRA SER ASSIM

Umuarama completa um ano do coronavírus com superlotação de leitos e profissionais da saúde no limite

14/03/2021 08H21

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No dia 13 de março de 2020 a Secretaria de Saúde de Umuarama registrava a primeira pessoa suspeita de contrair o novo coronavírus, uma mulher de 53 e que teria viajado para os Estados Unidos. Na época, medidas severas foram tomadas e a cidade passou por meses registrando baixa transmissão até a explosão de casos entre outubro e dezembro. Hoje, conforme profissionais da saúde e dos dados dos boletins municipal o coronavírus segue sua transmissão, porém com agravamento da covid-19, o que colocou em colapso a estrutura de saúde local e regional.

A secretária de Saúde, Cecilia Cividini, foi quem deu a notícia do primeiro suspeito de covid-19 na manhã do dia 13 de março de 2020, em reunião coletiva na Prefeitura de Umuarama. Do suspeito até o registro do primeiro caso positivo foram mais 14 dias. O primeiro positivo foi divulgado no dia 27 de março, sendo ele, um homem de 30 anos e que teria viajado para o exterior.

“São dias de lutas e demorou um pouco para entender o que poderíamos fazer com o que tínhamos, pois tudo era mistério. Hoje sabemos o que temos e o que somos capazes de fazer. Ao longo desses 12 meses conseguimos conduzir as situações, que cabiam ao poder público municipal. Precisamos reorganizar todo a dinâmica de um sistema para absorver o que podíamos e temos feito isso com maestria”, desabafou a Cecilia.

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Nos 12 meses de coronavírus, Umuarama presenciou disputas de classes, entre elas, empresários protestando para o não fechamento dos comércios e prestações de serviços, escolas querendo voltar a funcionar no presencial, pessoas desafiando as leis e desta forma promovendo festas e aglomerações e, agora nos últimos dias, pacientes sendo intubados em enfermarias e até no Pronto Atendimento, pois há mais de uma semana faltam leitos específicos para o atendimento da covid-19.

A agressão da doença

A secretária ressaltou que ao longo de um ano ficou claro a diferenciação das pessoas que entendem como a gravidade da doença afeta todos os setores da sociedade e aqueles que não acreditam e atuam para promover o descrédito na real situação. “Só tem a dimensão da situação quem vivencia o coronavírus por uma internação, por um paciente precisando de leito, ou ainda, o desespero de quem tem um óbito na família”, disse.

AUMENTO DE CASOS E MORTES

Jornal Ilustrado - Umuarama completa um ano do coronavírus com superlotação de leitos e profissionais da saúde no limite

No período da covid em Umuarama, a cidade registrou alto índice de transmissão entre o fim de outubro e dezembro de 2020 e foi quando o número de mortes também começou a aumentar. Já em 2021 comportamentos começam a mudar tanto do vírus como das pessoas, e a temida superlotação de leitos se transforma em uma realidade na cidade.

“Tivemos altos e baixos na incidência do vírus, mas nada comparado com que estamos vivendo hoje. O que observamos é uma mudança expressiva no padrão do vírus e isso pode ser relacionado com a mudança no padrão do comportamento da população e também com as novas cepas circulando no País”, ressaltou a médica responsável da Ala Covid da Uopeccan de Umuarama, Carla Dal Ponte.

A vez dos jovens

Ainda segundo a médica, antes os pacientes com quadro mais grave da doença eram os idosos e pessoas com comorbidades, porém, hoje pacientes jovens e sem outras doenças também estão apresentando uma gravidade maior em relação a covid-19. “Ambas as situações chegam com sintomas mais graves, lesões mais graves, maior necessidade de oxigênio e com isso maior tempo de internação o que está levando ao colapso do sistema de saúde”, explicou a médica.

VIRADA DE 2021

A mudança em relação ao vírus e o comportamento das pessoas foi sentida nos números municipais. De janeiro até ontem pela manhã, Umuarama havia registrado 6.292 notificações, 2.843 novos casos e 41 mortes relacionadas a covid-19, sendo que, durante todo período da pandemia em 2020 a cidade registrou 58 óbitos, totalizando 99 mortes.

O APELO CONTINUA

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Medica Carla Dalponte e o médico Raphael Biscaia falam da exaustão ao longo dos 12 meses de trabalho interminável

O médico infectologista do Hospital do Câncer Uopeccan, Raphael Chalbaud Biscaia Hartmann, atua frente à covid-19 desde o início dos casos em Umuarama, junto com a médica Carla Dalponte. Segundo ele, durante esse período presenciou inúmeras experiências. “Desde o início da pandemia sabia que seria uma luta difícil, contra uma situação inesperada e perante um agente que não tínhamos pesquisas e estudos. Nesses altos e baixos de casos estamos trabalhando em ritmo cada vez maior, estressante e desgastante, com poucos profissionais habilitados ou com disposição para atuar frente à covid”, noticiou.

Esgotados, mas salvando vidas

Biscaia lembrou que o coronavírus imprimiu uma rotina de doação total para com o tratamento dos pacientes, visando salvar o máximo de vidas. “Trabalhamos horas sem sair do hospital. Não vejo minha família há vários meses. A nossa privação de todas essas situações sociais não foi observada por muitas pessoas. Muitos não atenderam quando solicitamos o ficar em casa, preferiram as viagens e as festas. Mas, nós que estamos a frente da batalha contra a covid-19 tivemos que nos privar em absoluto, para cuidar do próximo. Mesmo com falta de leitos vemos uma parcela da população negar a doença e a gravidade. Se não fosse a equipe trabalhando como um todo, não conseguiríamos chegar onde estamos, pois o desgaste físico e emocional é imenso” exclamou.

Visivelmente esgotado, o médico Raphael Biscaia convocou novamente a população em meio a falta de leitos e o agravamento da doença para que colaborem em permanecerem em casa quando puderem. “A humanidade só consegue trilhar um caminho de sucesso quando temos um esforço conjunto. Quando é o contrário perdemos muitas vidas ao longo do caminho”, finalizou o médico.

Secretária se emociona ao falar da pouca
quantidade de vacinas e das críticas indevidas

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Na vivência do medo imposto pelo coronavírus a humanidade tinha na vacina a esperança da volta ao normal, uma vez que ainda não existe remédio para curar a doença. Laboratórios travaram uma gerra contra o tempo e imunizantes foram aprovados para serem aplicados em seres humanos, porém no Brasil estão chegando em ritmo de conta-gotas.

“Veio a vacina e uma esperança para nós. Ficamos emocionados. Mas o que viria para auxiliar se transformou em uma situação de caos e discórdia, pois não veio na quantidade que esperávamos e nem na velocidade que seria necessário. As pessoas não entendem a situação, até profissionais não leigos, que chegam apresentando vários questionamentos incoerentes. O coronavírus desenvolveu uma rachadura na sociedade, cada um pensando por si”, enfatizou Cecilia Cividini.

Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, a secretária de Saúde ressaltou que ao longo dos 12 meses toda a população está cansada, principalmente quem está atuando frente a pandemia. “Os profissionais estão sobrecarregados, é uma grande exaustão, pois ninguém tira férias, não estão com suas famílias, as folgas são apenas para tentar dormir. São doze meses de trabalho intenso. Por isso pedimos para todos se colocarem no lugar do outro e ter empatia para conseguirmos sair dessa situação”, conclamou Cecilia.