Eliseu Auth
Não é sonho. É delírio mesmo. Na semana que passou, o deputado Nikolas Ferreira foi eleito presidente da Comissão de Educação da Câmara federal. Perguntado se a terra era plana, disse que não tinha estudado o tema. Não sabia, portanto. Atentem ao nível de quem, em ato público, já atacou o valor da ciência e das vacinas e ainda se fez fotografar com fuzil nas mãos, como se ele fosse solução para nossa gente. O negacionismo e a pauta dos costumes da extrema direita escancara o atraso e a superficialidade em que chafurda.
A sensação que tenho é que regrediram no tempo e na história. Que não se conformam com a evolução experimentada pelos hominídeos que chegaram ao “homo sapiens”. A inteligência rasa dessa gente que odeia a ciência e o conhecimento, juro que me dá essa sensação. O resultado está aí nas vacinas que sobram nas prateleiras e faltam nos braços de nossa gente. Aí, apostam no fuzil e se exibem com ele, como se fosse solução para os nossos problemas. Até Cícero, no senado romano sabia mais que eles. Advertia: “Não são as riquezas nem as armas que salvam a República, mas seus princípios”.
A quadra da história que vivemos exige de nós que botemos no centro de nossas preocupações a educação e o aprimoramento cultural. Há que buscar o domínio da ciência, da pesquisa e da tecnologia. Nenhum outro caminho assegura a nossa independência e nossa autonomia como povo, neste mundo cada vez mais competitivo. Quem escolhe ficar fora dessa visão de mundo é sério candidato a espectador do planeta e renuncia ser sujeito da história.
Temos grandes poetas e pensadores aqui e fora daqui. Já disse ene vezes que meu poeta preferido é Castro Alves, um lúcido arquiteto de palavras, formas e conteúdo. Vou coroar minha reflexão com versos do seu poema “O Livro e a América”: “Filhos do sec´lo das luzes! Filhos da grande nação! Quando ante Deus vos mostrardes, tereis um livro à mão: O livro, esse audaz guerreiro que conquista o mundo inteiro sem nunca ter Waterloo. Éolo de pensamentos, que abrira a gruta dos ventos, donde a igualdade voou”. Isso é ou não é uma antítese ao mundo da superficialidade. Uma síntese da antítese!
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).