Eliseu Auth
Quem tem filhos, não tem como não se revoltar com o assassinato do estudante de medicina Marco Aurélio Acosta. O fato se deu, semana passada, nas escadarias de um hotel em São Paulo. Nem foi motivo banal porque motivo nenhum existia. As imagens mostram dois policiais tentando dominar o jovem. Um deles, sem mais nem menos, dá o tiro à queima-roupa no guri que se debatia, enquanto o outro o chutava. Não havia a menor razão para o desatino. A execução é que foi banal, fruto de truculênia incrustada em parte da polícia onde cidadãos que deveriam proteger, não valem nada.
Não armamos a polícia para fazer de nós o que quer. Ela existe para cuidar de nós e da “polis” (cidade) onde moramos. Ali ela tem a missão de nos proteger. Não faz leis próprias, mas segue a nossa, sob pena de abuso. Sempre soube que a polícia de São Paulo era a mais preparada do país, mas já não é assim. Hoje está truculenta. Seu governador já disse que a protege e não está nem aí com denúncias de abuso. Emendou que descontentes podem ir aos direitos humanos, à ONU e ao ráio que os parta, que não está nem aí... Isso, queira ou não, açula a truculência que pode soar como método autorizado.
Na minha longa trajetória no Ministério Público encontrei muitos bons policiais e os prestigiei. Evocava a polícia protetora que atravessa nosso filho pela rua movimentada, mas não tolerava abusos, truculência e arbítrio que não podiam passar em branco. O mau uso do caximbo entorta a boca. Queremos que a polícia aja com o rigor necessário, mas nunca com abuso. Não se quer que use punhos de renda e nem que fale com voz aveludada, mas siga protocolos onde caiba o respeito mútuo entre cidadãos e autoridade policial.
Assim entendida a relação entre cidadãos e polícia, surtirá a necessária harmonia num Estado com leis como o nosso, onde ambos precisam se respeitar. Ali não cabe matar um menino desarmado que se debatia com policiais armados. É oportuno perguntar: E, se fosse com nosso filho? Senhor Deus! Havia outro jeito de lidar com o jovem revoltado que facilmente seria dominado! Sua morte só deu em dor irreparável dos pais e de todos nós que vimos as imagens chocantes de mais uma execução por truculência.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).