Dr. Eliseu Auth

Coluna

Uma confusão à toa

21/12/2020 22H27

Eliseu Auth

Tem gente que gosta de confusão. Nesta hora difícil para todos, dá repulsa e faz nojo a confusão que se estabeleceu neste Brasil de meu Deus com a vacina contra a covid-19. Deveríamos cantar loas, dar glórias e estourar foguetes pela chegada da vacina. E correr para apresentar o braço para a picada salvadora. Afinal, ela vai nos devolver uma vida normal, aquecer a economia e impedir que nossa gente continue morrendo sufocada pela malvada pandemia. Mas, não. Bolsonaro diz que não vai tomá-la e insiste que ninguém será obrigado a tanto. Além disso, põe restrições à vacina “coronavac” que o nosso Butantã poderá produzir em larga escala. As razões são estúpidas: ela é chinesa e são aposta de um adversário político.

Aí, a claque de seguidores do negacionismo ecoa a irresponsabilidade, pousando de democrata que não é, e salpica as redes sociais, arrotando que obrigar a tomar a vacina, é antidemocrático. Ora, vamos. O argumento é maldoso, erístico e sofista, coisa que levou o STF a colocar ordem na casa. Disse ele, interpretando a Constituição: Ninguém vai ser vacinado à força, mas quem não tomar a vacina poderá sofrer sanções como ser impedido de viajar em avião, ônibus ou trem. Também poderá ser impedido de freqüentar certos lugares e exercer determinadas atividades. E mais: também os Estados da federação podem impor essas restrições. Alvíssaras! Inda temos Juízes!

Os fundamentos são simples. Vivemos em sociedade e ninguém tem o direito de expor os outros à contaminação de um vírus perigoso. É dever do Estado, mediante políticas públicas, reduzir riscos de doenças e outros agravos, adotando as medidas necessárias para proteger a todos. Será que os negacionistas vão entender? Eles estão fazendo uma confusão à toa.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).