Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

Uma batata quente 

05/08/2024 17H56

Jornal Ilustrado - Uma batata quente 

     Não é prá menos. A vitória de Nicolás Maduro na Venezuela está dando pano prá manga. Governos da ‘so que ditaduras se apressaram no reconhecimento, entre elas a Rússia de Putin, a China e a Coréia do Norte. A dúvida que abespinha a Democracia é séria porque as pesquisas indicavam larga vantagem para a oposição e a apuração foi opaca, apressada e sem transparência. Por quê o “Conselho Eleitoral” da Vanezuela anunciou a vitória de Maduro quando só 80% das urnas haviam sido apuradas? E por qual razão, não apresentou e não apresenta as atas com os votos das urnas?

     Sei que cautela e caldo de galinha não fazem mal, mas há algo mais no ar que os aviões da FAB. Se não é civilizado fazer julgamento apressado, cá entre nós, era preciso agir dessa maneira? Se os números apresentados são a verdade, por quê não mostrá-los na sua inteireza e de forma transparente? “Não basta que a mulher de César seja honesta, é preciso que pareça honesta”, já diziam os romanos de então. Os indícios que estão à nossa frente autorizam uma “dúvida atroz que a mente esmaga”, como diria Castro Alves. Se a democracia se guia por leis e alterna o poder com o voto popular, sempre com  transparência, temos um problema na proclamada vitória de Maduro.

     As ditaduras têm o mesmo fundamento que substitui a lei pela vontade do ditador. Assim, na essência, ditaduras de direita e esquerda são a mesma coisa. Elas tolhem a liberdade, detestam a lei que põem limites e fazem o que querem. Sim, porque a verdadeira liberdade não é fazer o que se quer. Se leis proíbem às vezes, é porque precisam botar limites, como Montesquieu insculpiu no seu “Do Espírito das Leis”: “Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder”.  

     Nós aqui no Brasil defendemos a democracia e a soberania das Nações. Agora temos um problema que é reconhecer ou não a vitória de Maduro. Não queremos romper relações com país algum. Muito menos com vizinhos de fronteira com mais de dois mil quilômetros, caso da Venezuela. Interessa romper relações e negócios, fechando as portas ao diálogo? Mesmo cobrando transparência, junto com Chile, Colômbia e México, estamos diante de um dilema: se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come. É uma batata quente.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).