Eliseu Auth
Na semana que passou duas cenas lindas rodaram o mundo. Ambas têm cachorros como protagonistas. Cachorros não. Cuscos, isso sim. Cachorro é um termo que lembra cachorrada, malvadeza. Cusco fica melhor. Não remete a maldade alguma. É a abstração de um animal que tem alma e sentimentos.
Na primeira imagem um cãozinho deitado ao lado do caixão funéreo do velho presidente Busch, velado na “Casa Branca”, de quem fora companheiro em vida. A outra imagem veio de Santa Catarina. Um catador de papel, latinhas e plásticos que tinha quatro cães que o acompanhavam lá onde fosse. Ao sofrer um acidente, teve que ser internado num hospital. Os animais postaram-se em frente ao prédio como alguém à espera da cura do patrão. De vez em quando se achegavam à porta como a espreitar e perguntar se tudo estava indo bem. Pergunto: Tem ou não tem alma esse bicho?
Lá no Rio Grande cultuam o companheirismo do cachorro que ninguém chama cachorro. É cusco. Alcidi Vargas escreveu um poema que ficou famoso na declamação de Odilon Ramos. Aí homenageia um guaipeca amarelo e pergunta se cusco tem alma. E conclui que se não tem gente também não tem.
Quem dos ilustrados leitores do Umuarama Ilustrado, não conhece uma história de carinho desse animal que deveriam chamar só de cusco. Cachorro dá em cachorrada que dá em malandragem. Cusco não é malandro. É leal, fiel, humilde, obediente… Se ralham com ele, encolhe o rabo e sai de fininho. Nasci, cresci e me criei na roça onde convivi e aprendi com essas criaturas maravilhosas. Lembro do “Paíto”, um bicho grande e bravo cão de guarda que nunca mordeu ninguém. Quando morreu fizemos um enterro de botar lágrimas nos olhos. O “Recingo” foi outro que marcou minha infância. Papai plantava alfafa e colhia sementes que eram caras e muito procuradas. Certa noite um ladrão entrou no paiol de casa e Recingo o atacou. Ao invés de furtar, largou um saco de sementes de alfafa para trás. Havia furtado no vizinho. Depois, papai foi levar o “presente” ao dono. A história correu vales e canhadas, ficou famosa e andou e de boca. Ficou conhecida como “Um presente de cusco”.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).