Eliseu Auth
O ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” já leu sobre Calígula, aquele ditador romano cruel e cheio de empáfia que nomeou seu cavalo “Incitatus” como senador. Se sabia que o animal era incapaz para o elevado cargo, foi para mostrar sua onipotência e humilhar a segunda instância do poder. A insanidade não parou aí. Calígula queria ser reconhecido como divindade. “Que me odeiem, mas me temam”, dizia. Símbolo do arbítrio, condenou à morte quem julgasse ameaçar seu poder. Como administrador foi perdulário e incompetente. Deu no que deu. Foi assassinado no ano 41 depois de Cristo.
A história registra uma ladainha interminável de “calígulas” mundo afora. Eles nascem, crescem e aprontam, subvertendo o poder e a força. Foi o iluminismo, lá no século XVIII, quem primeiro panfletou contra a tirania. Ali apresentou novos conceitos na relação entre povo, governo e poder. Botou na mesa a liberdade individual, a tolerância religiosa, o respeito à lei e oposição às monarquias. Nada de absolutismo era a bagagem iluminista. Depois do obscurantismo da Idade Média, o século da luz varreu a Europa com idéias civilizadas para botar freios no poder e o amarrou a um sistema legal. Se a Democracia germinou na Grécia de Sólon, Péricles e Demóstenes, onde a Ágora reunia cidadãos livres para discutir e votar questões importantes para o Estado, ela ficou por lá. Agora o Iluminismo veio com ela de volta e a contrapôs às autocracias, aos reinados e às ditaduras. A civilização agradece.
Comecei com Calígula, símbolo histórico da opressão. Fui à Grécia, ao obscurantismo e me detive no século das luzes que ainda pede socorro. Se trouxe a Democracia como regime civilizado, ninguém ignora que ela precisa ser preservada de golpistas do extremismo. Sejam de direita ou de esquerda. Nessa visão, a eleição de Trump, assumido extremista da direita, é uma ameaça sim. Em nome da superioridade americana que escreveu no boné, faz o que quer. Impõe taxas a todos, inclusive ao Brasil e quer tomar territórios e dizimar nações. Ficou feio para a extrema direita do Brasil que se enamorou de Trump e fica enfiando seu boné na cabeça. É um namoro que deu ruim.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).
