Eliseu Auth
O amigo Mauro Cano me presenteou com o texto básico da campanha da fraternidade. Ela é uma reflexão anual da Igreja Católica para as pessoas. Neste ano o lema é “Deus viu que tudo era muito bom”, onde adverte para a crise socioambiental no planeta. O homem está destruindo o que Deus criou bonito e bom, segundo o livro do Gênesis. A campanha aponta a destruição da natureza com o desmatamento desenfreado e a emissão de gases poluentes, tudo desaguando na degradação do solo, escassez das águas e nas dolorosas mudanças climáticas. O que foi criado bom e bonito está em crise.
Aplaudo o tema que é oportuno. O Papa Francisco é um defensor do meio ambiente. No geral, as religiões e crenças que os homens criaram para aplacar as angústias existenciais, têm sido absolutamente omissas nos cuidados com o planeta, casa onde moram os fiéis. Púlpitos, cultos e pregações religiosas ignoram que ele é condição “sine qua non”, indispensável à sobrevivência. Para eles, lixe-se o bem estar e a continuação da espécie. Deveriam lembrar Claude Strauss: “O mundo começou sem o homem e terminará sem ele”. Quer queiram quer não, a advertência do pensador é coerente e faz muito sentido.
Das religiões e crenças, o que se espera é que tenham em mente o bem das pessoas e não os seus bens. Falam muito em dinheiro que arrecadam em nome de Deus, mas enriquece mercadores da fé. É um desvirtuamento do sagrado que não tem nada a ver com a fé que aprendemos de berço, onde o divino é luz para o sentido da vida nesta peregrinação terrena e o bem de todos.
Não é atraso aprender com os índios que preservam as florestas. Para eles a natureza é sagrada. Sempre vamos precisar do ar, das águas e dos frutos da terra para viver. São pressuposto para a nossa vida neste mundo de Deus. Guardo, já amarelada pelo tempo, a carta do cacique Seathl ao presidente dos Estados Unidos que, em 1855 queria comprar as florestas da tribo. Vale aprender com a resposta do índio: “Tal idéia é-nos estranha. Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Não somos donos da pureza do ar e do resplendor das águas. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. A terra não é irmã do homem branco, mas sua inimiga. Depois de exauri-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo dos seus pais. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si, desertos. Tudo quanto fere a terra fere também os seus filhos”. E advertiu: “Continua poluindo a tua própria cama e hás de morrer uma noite, sufocado nos teus próprios desejos (…).”
Quando Deus criou o mundo tudo era muito bom.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).