Umuarama

SETEMBRO VERDE

Triste: Umuarama acumula mais recusas do que doações efetivas de órgãos

18/09/2023 14H39

Jornal Ilustrado - Triste: Umuarama acumula mais recusas do que doações efetivas de órgãos
O ato de amor de Karina, mãe de João Guilherme, permitiu que o filho continue vivo em outras pessoas (foto arquivo pessoal)

Umuarama – Em um momento em que o Paraná se destaca como o estado com o maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes em 2023, Umuarama chama a atenção por estar na contramão. Entre janeiro e junho a Secretaria de Estado da Saúde contabilizou nove doações efetivas na área da 12ª Regional de Saúde de Umuarama contra 10 recusas familiares em pacientes aptos. Os dados chamam a atenção para a necessidade de se falar, tirar dúvidas e entender a dimensão de que o ato de doar órgãos representa uma esperança e um novo recomeçar para quem está na fila de espera.

“A doação foi a minha melhor escolha. Em um momento de dor eu sei que consegui ajudar a salvar vidas. Me consola saber que graças ao meu filho outras pessoas estão enxergando e vivendo com o coração dele”, afirmou a autônoma Karina Negrett Furtado, de 38 anos. Ela espera um dia escutar o coração do filho no peito do receptor.

Karina perdeu o filho João Guilherme Negrett Furtado, de apenas 15 anos, após um atropelamento, no dia 16 de dezembro de 2022, em Cruzeiro do Oeste, onde a família reside.

O adolescente seguia de bicicleta para o trabalho quando foi colhido por um veículo no cruzamento das avenidas Curitiba e Garibaldi Pinheiro. João Guilherme chegou a ser socorrido e permaneceu internado por três dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Cemil, em Umuarama, mas infelizmente não resistiu e foi constatada sua morte encefálica no dia 19.

Karina contou que João Guilherme era muito tranquilo e queria ser psicólogo. Ele era o segundo filho da autônoma que tem mais três. “O João era muito esforçado, gostava de jogar vídeo game e quando começou a trabalhar despertou a vontade de trabalhar para me ajudar. Eu achava tão lindo quando ele me dizia que iria me ajudar”, relatou.

Jornal Ilustrado - Triste: Umuarama acumula mais recusas do que doações efetivas de órgãos
A enfermeira Arietha Araújo salienta a importância de manifestar em vida aos familiares a vontade de ser doador

Ato de amor

Karina contou que ela é doadora e quando João Guilherme sofreu o acidente, veio a certeza da doação se o pior acontecesse. “Quando o vi, senti no meu coração que meu filho não iria voltar mais para casa. O acidente foi muito grave”, contou.

Com a decisão tomada, conversou com familiares, que são da área da saúde. Ressaltou que o apoio familiar foi incondicional. O ato de amor de Karina permitiu que outras sete pessoas tivessem a chance de um recomeço. Foram doados o coração, o pâncreas, o fígado, os rins e as córneas.

Segundo um levantamento do Sistema Estadual de Transplantes (SET/PR), atualmente 3.503 pessoas esperam por um transplante no Paraná. A fila é maior para quem necessita de um rim – são 1.937 pacientes. Na sequência, estão 1.278 pacientes que aguardam por um transplante de córnea, além dos que esperam por transplantes de fígado (244), coração (29), rim/pâncreas (24) e pulmão (20).

Setembro Verde

Para esclarecer a sociedade sobre o que é a doção de órgãos, como funciona e quem está apto é que foi criada a campanha Setembro Verde. Durante todo esse mês no Brasil todo são realizadas ações que buscam tirar dúvidas, orientar e salientar a importância de ajudar a quem precisa, mesmo que seja no momento mais difícil, o do luto.

“É um momento muito delicado para a família, pois ela está em luto”, salientou a enfermeira Arietha Araujo, integrante da Comissão Intra-hospitalar de Órgãos e Tecidos para Doação (CIHDOTT) do Hospital Cemil, de Umuarama. Ela é uma das profissionais que acolhem a família no momento do óbito e conversam sobre a possibilidade da doação.

“Mesmo que esteja sendo mantida apenas por aparelhos, pois já houve a morte encefálica, o familiar vê o paciente respirando, com o coração batendo e o corpo quentinho, o que faz o momento ser mais delicado”, salientou Arietha.

Doadores

A enfermeira salientou que os maiores impeditivos para a doação são convicções religiosas e falta de entendimento sobre o processo de doação. “Conversamos, tiramos as dúvidas, mas a decisão final é sempre da família e respeitamos isso”, afirmou Arietha.

A profissional explicou que somente pacientes em situação de morte encefálica e de parada cardiorrespiratória podem ser potenciais doadores. E todo o processo é feito através do Sistema Único de Saúde (SUS) e com profissionais capacitados especialmente para isso. Isso garante a isonomia e transparência.

Após a verificação é feito todo um procedimento médico, balizado por lei, com três exames de diagnósticos, sendo um de imagem realizado no cérebro que vai verificar se ainda há circulação sanguínea no cérebro. A ausência caracteriza de forma definitiva a morte encefálica. Um único doador pode salvar até oito vidas.

A doação é realizada somente mediante autorização da família e, por isso, a importância da pessoa em avisar os familiares da vontade de se tornar doador. “Já tivemos situação em que a doação ocorreu porque o familiar realizou a vontade da esposa, que já havia dito que era doadora”, explicou Arietha.

Coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e também tecidos, como córneas, pele, ossos, válvulas cardíacas e tendões podem ser doados. Qualquer pessoa pode doar. A doação de rins ou parte do fígado pode ser feita em vida, para um familiar próximo. Quando esse tipo de doação for para uma pessoa não pertencente à família, é necessário uma autorização judicial.

Logística

O Governo do Estado disponibiliza toda infraestrutura aérea e terrestre para o transporte dos órgãos, o que garante agilidade e logística adequadas para o procedimento.

“O trabalho desenvolvido pelo Sistema Estadual de Transplantes funciona em prol das pessoas que aguardam uma nova oportunidade de vida por meio do transplante. Nossos esforços são para que cada vez mais pessoas sejam beneficiadas por esse gesto de amor e solidariedade”, ressalta a coordenadora do Sistema Estadual de Transplantes, Juliana Ribeiro Giugni.

Rede

O Estado conta com uma Central Estadual de Transplantes, responsável pela área administrativa e plantão, localizada em Curitiba, além de quatro Organizações de Procura de Órgãos (OPO) – Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel. Estas unidades trabalham na orientação e capacitação das equipes das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, distribuídas em 67 hospitais do Paraná.

Ao todo, são cerca de 700 profissionais envolvidos, entre os quais também estão 23 equipes de transplante de órgãos, 25 centros transplantadores de córneas, quatro bancos de córneas em atividade (Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel), além dos laboratórios clínicos e de histocompatibilidade.

Setembro Verde no Cemil

Este ano o Hospital Cemil está realizando uma série de atividades para marcar o Setembro Verde. Veja abaixo:

DATAAÇÃORESPONSÁVELHORÁRIO
    
18/09Ação no Shopping com os alunos do Centro de Educação Profissional São Francisco de Assis e CIHDOTTEnfª Tayla19:30 às 22:00 hrs
18/09Palestra para os funcionários do ShoppingEnfª Natalie e Josimeire – Assistente Social14:00 às 17:00 hrs
20/09Ação no Shopping com os alunos do Centro de Educação Profissional São Francisco de Assis e CIHDOTTAna Clara – Psicóloga19:30 às 22:00 hrs
22/09Ação no Shopping com os alunos do Centro de Educação Profissional São Francisco de Assis e CIHDOTTEnfª Natalie19:30 às 22:00 hrs
25/09Palestra para os funcionários do HospitalEnfª Mayara, Enfª Adriane e Eva – Téc. Enfª10:00 às 12:00 hrs 15:00 às 17:00 hrs
26/09Ação no Shopping com os alunos do Centro de Educação Profissional São Francisco de Assis e CIHDOTTEnfª Leticia e Enfª Isabelly19:30 às 22:00 hrs
28/09Ação no Shopping com os alunos do Centro de Educação Profissional São Francisco de Assis e CIHDOTTEnfª Mayara19:30 às 22:00 hrs
29/09Encerramento – Setembro VerdeCIHDOTT