Educação
O consumo de alimentos saudáveis é difundido globalmente para preservação da saúde do corpo, mas você já parou e pensou o que consumimos para manter a mente saudável? Em quatro anos o Brasil perdeu mais de 4,6 milhões de leitores de livros e muitos desses para as redes sociais.
Os dados são da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada entre 2015 a 2019, e ratificados pela escritora e alfabetizadora Ângela Russi. A professora acredita que este cenário pode proporcionar um prejuízo intelectual aos brasileiros, devido a pobreza de conteúdo consumido. “É nessas leituras rápidas e pobres de redes sociais e aplicativos de mensagem, que muita gente cai nas conhecidas fake News”, alertou.
De acordo com a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró Livro em parceria com o Itaú Cultural, a internet e as redes sociais são razões para a queda no percentual de leitores, sobretudo entre as camadas mais ricas e com ensino superior. “A gente nota que a principal dificuldade apontada é tempo para leitura e o tempo que sobra está sendo usado nas redes sociais”, apontou acordo com a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla.
O estudo mostra que 82% dos leitores gostariam de ter lido mais. Quase a metade (47%) diz que não o fez por falta de tempo. Entre os não leitores, 34% alegaram falta de tempo e 28% disseram que não leram porque não gostam. Esse percentual é 5% entre os leitores.
A internet e o WhatsApp ganharam espaço nas atividades preferidas no tempo livre entre todos os entrevistados, leitores e não leitores. Em 2015, ao todo, 47% disseram usar a internet no tempo livre. Esse percentual aumentou para 66% em 2019. Já o uso do WhatsApp passou de 43% para 62%.
Mesmo neste cenário de déficit de leitores, Ângela Russi acredita que a pessoa com hábito de ler pode até parar a leitura por alguns meses, por motivos diversos, mas sempre será um leitor. “Quem é leitor é leitor, podemos parar um mês ou dois meses, mas com o passar do tempo a pessoa vai voltar a ler”, acredita a escritora.
E na visão otimista da entrevistada, ela acredita que muitas pessoas começaram a ler com a pandemia do coronavírus. “O próprio jornal Umuarama Ilustrado divulgou matéria no início da semana falando do aumento na compra de livros no período de pandemia”, disse Ângela Russi.
A escritora umuaramense também falou da dificuldade para conseguir comprar um livro, devido aos valores, principalmente agora com o aumento de impostos na indústria do livro. “O preço do livro é alto para muitas pessoas, é um artigo de luxo. Hoje eu posso dizer que tenho condições para comprar um livro, depois de muitos anos de trabalho, mas antes eu não conseguia e por isso li muito livro emprestado”, ressaltou.
“A coisa mais linda do mundo é poder dar um livro para uma criança e ver que ela está interessada”, exclamou Ângela ao falar da formação dos leitores. Atuando na alfabetização de milhares de umuaramenses, a professora alerta os pais que o estímulo a leitura é o melhor presente para vida dos filhos. “A criança é como um solo fértil. Se você planta a semente e regar periodicamente ela vai crescer e florescer”, exclamou.
Contar histórias é uma das melhores formas de iniciar a vida de um futuro leitor, orientou a professora. “Quer levar o gosto da leitura para criança? Conte histórias de uma forma atrativa para ela, pois a criança é lúdica. Minha mãe tinha pouca leitura e ela contou a história de José da Bíblia para mim, quando eu era pequenininha. Nunca mais esqueci e até hoje quando vejo essa história me lembro da simplicidade da minha mãe contando. A leitura é mágica e transformadora”, explicou.
O ser humano é movido pela comunicação, é um ser social e vive em bando desde os primórdios. Desta forma, a leitura é essencial para a plasticidade do cérebro e essencial ler o mundo. “O leitor consegue interpretar o mundo é ver além das linhas. A leitura não está só no livro a leitura é o todo. Lemos tudo ao nosso redor, a comida, as pessoas, os lugares e os animais. Quanto mais lermos livros diversos, mais teremos o potencial para decifrar os códigos da vida” finalizou Ângela.
De 2015 para 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%. Já os não leitores, ou seja, brasileiros com mais de 5 anos que não leram nenhum livro, nem mesmo em parte, nos últimos três meses, representam 48% da população, o equivalente a cerca de 93 milhões de um total de 193 milhões de brasileiros. As maiores quedas no percentual de leitores foram observadas entre as pessoas com ensino superior – passando de 82% em 2015 para 68% em 2019 -, e entre os mais ricos. Na classe A, o percentual de leitores passou de 76% para 67%.