CALDEIRÃO
Umuarama – Após mais de um ano de calmaria os holofotes estão voltados para a cadeia pública de Umuarama. Em nove dias foram registradas duas mortes de detentos (uma autodeclarada lesão), um preso ferido na barriga e um quarto recluso levado as pressas ao hospital vomitando sangue.
Oficialmente a Polícia Civil afirma que são casos isolados e que não há aparente ligação entre eles. A assessoria de imprensa do Departamento Penitenciário (Depen) não se manifestou até o fechamento da edição.
Entre os parentes de detentos, o clima é de receio e de medo pela integridade física de maridos, filhos e pais. Na manhã de sexta-feira (21), após o anúncio da segunda morte, familiares de outros presos aguardavam na porta da cadeia para a entrega de sacolas com alimentos e objetos pessoais.
Receosos, poucos quiseram se manifestar. Uma mulher, que pediu para não ser identificada, contou que o marido está preso há cinco meses por tráfico de drogas. “O vi na quarta-feira (19). A gente fica com medo de que algo aconteça sim. Não sei o que está acontecendo”, afirmou.
Até o fim da manhã de sexta-feira (21), a cadeia contava com 259 detentos, mais de quatro vezes a sua capacidade física, que é de 64 pessoas. Se considerarmos que das duas galerias existentes, uma está interditada desde agosto de 2017, após uma rebelião, o espaço físico disponível para abrigar esses homens é ainda menor. “Por conta da superlotação os presos não ficam recolhidos nas celas. Ficam soltos na galeria”, explicou o delegado operacional da 7ª SDP, Thiago Soares.
A superlotação e o comprometimento da estrutura física do prédio já motivou o Ministério Público a ingressar com uma Ação Civil Pública, pedindo a interdição da cadeia. A Justiça concedeu parcialmente o pedindo, determinando que o detento não pode ficar mais do que 120 dias no local e depois deve ser remetido para uma unidade prisional adequada a situação individual de cada preso. Na prática, nada mudou. A cadeia ainda é um depósito de pessoas e o local é comparado a ‘um caldeirão em ebulição’.
E enquanto a água borbulha, os casos começam a aparecer. No dia 12 de setembro, um preso de 32 anos foi levado pelo Samu ao hospital de plantão com dois ferimentos na barriga provocado por um ‘estoque’, arma artesanal feita a partir de um pedaço de ferro. No dia, ao médico socorrista, o detento afirmou que se auto lesionou para sair do local na tentativa de fugir de ameaças contra sua vida. O caso ainda está sendo investigado.
Seis dias depois, na terça-feira (18), Paulo Sérgio Sena, 40 anos, foi morto por companheiros, que usaram uma ‘teresa’ (corda artesanal feita com lençol) para o enforcar e o agredir, segundo a Polícia Civil. A morte foi anunciada anonimamente para a polícia pouco antes. Só não se indicou quem seria a vítima.
Na quinta-feira (20) cinco presos foram transferidos para a Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO) por determinação da Justiça. O número está longe do ideal.
De acordo com declaração da Polícia Militar no dia da morte, os detentos acusavam Sena de responder pelo crime de estupro. Essa versão não é confirmada pela Polícia Civil. Oficialmente Sena estava preso desde o dia 13 de maio por tráfico de drogas.
A terceira vítima, o detento Maicon Israel Viana de Castro, 23 anos, foi encontrado morto por volta das 6 horas desta sexta-feira (21). Ele estava com uma corda no pescoço e a causa da morte definida pelo IML foi asfixia mecânica por enforcamento.
A polícia informou que está investigando o caso, mas as primeiras informações dão conta de que pode ser um suicídio. E que a morte de Maicon não teria ligação com a morte de Paulo Sérgio. Maicon Castro estava preso por conta de um furto.
Os dois homens foram encontrados com cordas envolta do pescoço.
Os agentes do Depen chegaram até o detento morto nesta sexta-feira quando entraram na cadeia para socorrer outro preso, José Maicon Gomes da Silva, 23 anos, que estaria vomitando sangue. Ele não apresentava sinais de violência e foi encaminhado ao hospital de plantão.