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DIA DO TRABALHADOR

Sociólogo comenta sobre as mudanças das relações de trabalho na atualidade

02/05/2024 16H46

Jornal Ilustrado - Sociólogo comenta sobre as mudanças das relações de trabalho na atualidade

Em alusão ao Dia do Trabalhador, comemorado nesta quarta-feira, 1º de Maio, que este ano é marcado pelos 100 anos de instituição da data, o Ilustrado conversou com o professor do IFPR e sociólogo Rafael Egidio Leal e Silva sobre a data, a evolução e transformações das relações trabalhistas na nossa sociedade levando em consideração o avanço tecnológico. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Neste 1º de Maio, em que se comemora o centenário do Dia do Trabalhador, o que se pode observar de evolução nas relações trabalhistas entre empregado e empregador?

Rafael Egidio – A gente está falando do Dia do Trabalhador e a pergunta envolve a evolução das relações trabalhistas entre empregado e empregador. Infelizmente, o que a gente observa não é mais uma evolução, e sim uma precarização cada vez maior dessas relações. Primeiro que a relação empregado e empregador, é cada vez mais inexistente, pois os contratos de trabalho estão desaparecendo. A relação entre o empregador e o trabalhador é hoje uma relação de momento, que chamamos de ‘uberizada’ onde não tem um contrato formal. Tem uma relação momentânea de um serviço tem que ser feito e aquela pessoa que está necessitando de dinheiro e recebe essa demanda, geralmente via algum aplicativo e, faz esse serviço e a relação é desfeita. Essa relação pode ser desfeita em 10 minutos ou uma semana. Não tem mais um vínculo entre o empregador e o empregado. Desde o século passado, o economista Rifkin já utilizava a expressão, o fim dos empregos, ou seja, você vai ter trabalho, mas não vai ter emprego.

Em pleno século 21 ainda nos deparamos com situações de trabalhadores mantidos em situação análoga a escravidão (inclusive na nossa região), com total ausência de respeito aos direitos trabalhistas e principalmente, sem o respeito mínimo à dignidade humana.

O que ocorreu de errado para não termos evoluído como sociedade o suficiente para ainda nos depararmos com situações assim?

Rafael Egidio – A pergunta se responde. Na nossa atualidade e há uns 200 anos, o grande gestor econômico da sociedade é o capitalismo. E o capitalismo não tem absolutamente relação com nenhum tipo de direito, de ética e respeito à dignidade. Trabalhadores análogos a escravos têm nossa região, em São Paulo, mas também tem nos Estados Unidos, na África, na Ásia e vai continuar onde tiver um patrão mais inescrupuloso, que não queira obedecer às regras mínimas de sociedade e tiver baixa fiscalização por parte do Estado.

Economista e empregadores têm uma fala comum de que a relação com o Estado tem que ser mínima para que o Estado possa ser o grande fiscalizador das normas jurídicas, do cumprimento de certa ética, observância de dignidade. Só que quanto menos essas pessoas tem relação com o Estado, maior a possibilidade de tratar o trabalhador com menos dignidade. O trabalhador recebe salário-mínimo por imposição estatal. Não é por benevolência do dono do comércio, do dono da fábrica.

Com o avanço da tecnologia e com gerações que nascem e crescem dentro da era digital, vemos uma mudança na relação tradicional trabalho-trabalhador. Hoje o jovem não tem medo de mudar de emprego e até mesmo de carreira, se acreditar que há uma oportunidade melhor, principalmente se envolver horários flexíveis, em home office e uma qualidade de vida. Como essa mudança de atitude esta impactando nossa sociedade nas relações de trabalho?

O Brasil é um país de contrastes e tem uma parcela significativa da sociedade a margem do trabalho regulamentado. O que isso nos diz como sociedade?

Rafael Egidio – O Brasil tem características bem diferenciadas, quando pensamos em países de capitalismo avançado. Estados Unidos e Europa avançaram com o capitalismo. A formação dos empregadores no Brasil não teve a necessidade de apostar seu capital, fazer grandes investimentos, buscar novos mercados. A metrópole portuguesa garantia o mercado e o financiamento e isso faz efeito na nossa sociedade até hoje.

Como sociedade, o Brasil deveria retomar os rumos de desenvolvimento econômico e principalmente industrial, que foi abandonado. Quanto maior a uberização, maior o vácuo de desenvolvimento gerado, principalmente de uma população que consegue consumir produtos que são de relevância para o mercado.