Questões que nos afligem

     Tive um colega de seminário que era símbolo do sossego. Para ele, tudo era como devia ser. Nada o perturbava. Seu raciocínio era “deixa que o mundo cáia, contanto que não me acerte”. Era boa gente, mas esse seu otimismo me remete a Jorge Amado no dito que a felicidade é dos burros. Claro que ele não era burro, mas a metáfora tem verdade até ao pé da letra. Bichos pastam e isso lhes basta. Não estão preocupados com o que de ruim pode estar à frente. Nem com a cargas pesadas que lhes vão botar no lombo.

     Não consigo ser assim e acho que nem o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” consegue. Por “fas ou por nefas”, construímos o mundo que está aí. E ele nos angustia e faz sofrer um tanto. Contamos mais de 150 conflitos e guerras em curso, sangrando ódio, fome e miséria. Enquanto isso os grandes orçamentos vão para armar povos e nações. Quantas já têm bomba atômica, muitas delas em mãos de déspotas ferozes.  Na semana que passou, o ditador da Rússia, Vladimir Putin ameaçou usar seu arsenal atômico, caso o ocidente envie tropas para socorrer a Ucrânia que ele invadiu. Assim, feito píton faminta, vai estrangulando aos poucos sua vítima até engoli-la por inteiro.

     Nem a ONU nega que o ditador Netanyahu está cometendo crime contra civis palestinos. Logo ele que fortaleceu os terroristas do Hamas, enquanto humilhava a autoridade palestina que reconhece o Estado de Israel e só quer um território para seu povo. Passou da hora de reconhecer o Estado palestino, missão da ONU, como fez em 1948 quando o brasileiro Oswaldo Aranha presidiu a Assembléia Geral que criou o Estado de Israel. Só assim a paz voltará àquela região onde os dois povos podem e devem conviver.

     As guerras se atropelam neste mundo que já foi de meu Deus. Nem tempo tem para cuidar dos reais problemas que ameaçam a própria sobrevivência do  planeta que aquece como caldeirão no fogo. No andar da carruagem, só resta erguer as mãos e pedir ajuda aos céus. Sim, porque aqui embaixo estamos fazendo ouvidos moucos para as grandes questões que nos afligem.  

     (Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).