Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

Que se alevantem novos heróis!

10/03/2025 18H30

Jornal Ilustrado - Que se alevantem novos heróis!

     A tirania não sai da agenda. Não sou visionário, mas Trump nunca me enganou. Encarna o direito da força sobre a força do Direito,  apoiado nos tais “nacionalistas” que se acham raça superior e se inspiram no nazi-fascismo. Acham-se acima de tudo e todos. O resto que somos nós outros, que se dane!

     Depois da guerra, a civilização parecia ter superado o autoritarismo. Agora, de novo a democracia corre perigo, enquanto Trump e Putin trocam juras de amor. Não gosto de guerra alguma porque é péssima para todos, mas a humilhação que Trump impõe à Ucrânia invadida, brada aos céus. Atentem! É aceno de que vale a pena invadir outro país, bombardeá-lo e tomar-lhe o território. É o jogo dos salteadores que tomam dos fracos e dividem o espólio.  

     Aos incautos ou mal intencionados que aplaudem extremistas lembro um pouco do que essa gente fez e fará, caso não se lhes dê um basta. Volto à história ainda recente e me fixo no rastro nazista de sangue, horror e lágrimas.

     O livro “As 999 primeiras mulheres de Auschwitz” de Heather Macadam, que tenho na biblioteca, relata o primeiro comboio de meninas eslovacas que foram para o campo de concentração, onde deveriam ser mortas por terem origem judia. Foram arrebanhadas para a “Solução Final” que visava matar 11 milhões de judeus. No método, os frágeis, jovens ou velhos, deveriam ser mortos de imediato e os mais fortes trabalhariam e seriam assassinados no devido tempo. Esse comboio foi organizado pelo ditador Josef Tiso da Eslováquia, protegido de Hitler que baniu partidos de oposição, perseguiu judeus e adversários com sua guarda nacional. Conta Macadam que essas garotas, “acharam emocionante trabalhar no exterior, principalmente porque foram asseguradas de que logo estariam em casa”. (op cit. pág. 13).

    A mentira era método. No livro “Estilhaços”, Paulo Nogueira lembra o campo de concentração de Fossoli, na Itália. Antes da partida dos filhos para Auschwitz, “as mãespreparavam com esmero as provisões para a viagem, davam banho, arrumavam suas malas e lavavam suas roupas. (…) Elas não esqueciam as fraldas, os brinquedos, os travesseiros, todas as pequenas coisas necessárias às crianças e que as mães conhecem tão bem” (p. 168). Só que os filhos estavam viajando para a morte.  É o mundo cruel dos ditadores. 

     Aos que derrotaram o nazismo na guerra, rogo que voltem e inspirem novos Churchills e novos Roosevelts. Que se alevantem novos heróis!

     (Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).