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Setembro Amarelo

Psicólogo fala de quando a morte questiona nosso jeito adoecedor de viver

12/09/2021 07H30

Jornal Ilustrado - Psicólogo fala de quando a morte questiona nosso jeito adoecedor de viver
Conforme o psicólogo Thiago Sitoni, a campanha é voltado para prevenção e pósvenção do suicídio

O último dia 10 deste mês é reconhecido como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas o mês de setembro ficou conhecido nacionalmente com a campanha do “Setembro Amarelo”. Conforme o psicólogo Thiago Sitoni, a campanha é voltado para prevenção e pósvenção do suicídio, com ações para resgatar a promoção de saúde e a garantia de direitos diante das situações de sofrimento, que ameaçam o sentido de vida.

Em conversa com o jornal Umuarama Ilustrado, o psicólogo e psicoterapeuta ressaltou que esse mês é símbolo para mobilizar o sentido de nossas relações e os seus efeitos no nosso existir, que em vez de ser somente “mental” é de todo corpo e todo mente “Como diria um filósofo bastante crítico do nosso jeito de ver nossas ações de forma dividida, Merleau-Ponty menciona: somos todo corpo, portanto, sentimos e sofremos por inteiro”, ressaltou Sitoni.

Umuarama Ilustrado – No cenário de vivência em que passamos, por qual caminho chega a prevenção?

Thiago Sitoni – “Como mês de prevenção, enfoca-se nos fatores de risco que repercutem na existência, como a pobreza, isolamento social (principalmente durante esta pandemia), fobias sociais, racismo, questões psicossociais e os diversos transtornos mentais. Mas não podemos ser reducionistas quando o assunto é a ausência de sentido de vida: ‘quem retira sua vida, é fato que em seu curso, não houve legitimação ou atenção’. Como uma forma de agir, neste sentido, a prevenção propõe os seguintes caminhos: a educação e o acolhimento. Tal como Paulo Freire propunha uma educação verdadeiramente para a autonomia, precisamos educar para valorizar vidas, das mais diversas expressões e nos seus mais amplos direitos”.

Umuarama Ilustrado – É possível traçar os caminhos até o ato do suicídio?

Thiago Sitoni – “Mesmo em amparo (e levando em conta os sofrimentos invisíveis, as mortes não notificadas ou banalizadas), é notório o aparecimento das tentativas de suicídio e sua efetivação. Paulo Vitor Navasconi, em sua dissertação, afirma que muitos de nossos sofrimentos são estruturais e se tornam raízes de uma questão muito maior. O sofrimento possui uma biografia atravessada por diversas relações de poder”.

Umuarama Ilustrado – Além da prevenção você também citou a pósvenção, o que seria?

Thiago Sitoni – “Quando alguém se mata, coloca em voga diversos questionamentos como: Que vida estamos vivendo? Que vida estamos forjando viver? O que desejamos: viver ou produzir? A pósvenção, nesta dura tarefa de resgatar o sentido, é uma ação feita com os enlutados por suicídio (mais conhecidos como sobreviventes). Quando alguém morre por suicídio, no mínimo, existem 5 enlutados, sem contar com os lutos coletivos e suas interferências com o outro”.

Umuarama Ilustrado – Para finalizar, gostaria de deixar uma mensagem?

Thiago Sitoni – “Todo esse caminho de atenção é realizado a passos conjuntos. Quando avança-se na promoção de saúde, nunca marcamos a história sozinho. Não seria diferente neste mês. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a cada 40 segundos, alguém morre por suicídio no mundo. A leitura deste texto, pode ter sido o tempo-limite de alguém. Que essas informações tenham sido, além de prevenção, tenham sido assessoras do seu tempo. Falar, enfrentar, acolher o suicídio é inquietar o nosso sentido de vida”.