Por (a eleitora) Ângela Russi
Estamos em ano de eleições e mais uma vez a propaganda eleitoral gratuita obrigatória entra na vida dos eleitores como sinônimo de promessas que não serão cumpridas e que de tão ouvidas acabam por desacreditar as sinceras.
Não riam de mim, mas acredito que há alguma sincera.
Tem de haver, gente! (Pelamordedeus)
Cazuza, cantava que mentiras sinceras o interessavam.
Eu não canto, mas, digo que promessas sinceras me interessam.
Parece que promessa está intimamente ligada aos candidatos que pleiteiam uma vaga, porém quem nunca prometeu algo sabendo que não cumpriria?
Eu mesma já fui uma “prometedora” e tanto.
Na infância vivia fazendo promessas a Deus quando queria alcançar algo difícil.
As crianças são inocentes quanto à responsabilidade de uma promessa e o tempo para elas é diferente do que para os adultos.
Elas almejam o futuro achando que demorará a chegar, já os adultos sabem que ele chega rápido demais.
Eu, às vezes, prometia algo para a vida toda e depois de um tempo esquecia.
Eram 15 Pais-nossos por dia caso ganhasse uma bicicleta, ou 10 antes de dormir se minha mãe me deixasse brincar um pouco mais.
Para ir a algum lugar que eu sabia que ela não permitiria, o número de orações da promessa dobrava.
Uma vez prometi ir à missa duas vezes no mesmo domingo. Fui de manhã e de tarde desanimei por que queria assistir aos Trapalhões. (Era bem na hora da missa.) Resultado: fui. Minha mãe me ensinou me levando à igreja. Promessa é promessa, me disse ela.
Nessas trocas com Deus achava que Ele precisava de meus Pais-nossos, mas quem precisava Dele era eu.
Hoje imagino Ele rindo e se divertindo comigo e com as promessas que eu propunha. Imaginar Deus sorrindo é bom demais.
Hoje sei que prometer é fácil para quem não tem compromisso com o futuro. Acredito na frase de Rubem Alves: “Promessas são as palavras que engaiolam o futuro”.
Como a criança que acha que terá os pais para sempre e o mais difícil que a vida pode oferecer é um não deles.
Prometer é difícil para quem sabe que o futuro chega e com ele o dia de honrar a promessa,
O futuro, por mais distante que pareça, chega e passa.
Torna-se passado.
Com ele promessas cumpridas e não cumpridas viram história.
Mesmo aquelas sem maldade, só para consolar, são vazias sem compromisso.
A lembrança de promessas vazias faz nossa história mais triste.
Promessas hoje?
Só com chances reais de serem cumpridas, realistas, pertinentes, razoáveis e possíveis.
Promessa é compromisso, é coisa séria.
Como os adultos da minha infância diziam: “Promessa é dívida”.
Quando ela fica só na palavra e não parte para a ação, desmerece quem prometeu e, infalivelmente, o desacredita.
Caso a ser pensado: o que ando prometendo ultimamente? E você?
Imagino que se eu continuasse naquele ritmo infantil estaria devendo muitos Pais-nossos. Certamente o Pai do céu, que me conhece melhor que ninguém, continuaria se divertindo comigo, porém, não faço mais trocas, hoje nosso relacionamento é maduro.
Entretanto, vejo alguns candidatos se comportando como crianças ao prometerem sem responsabilidade.
A diferença é que as crianças são inocentes e isso é que diverte Deus.
E o pior é que no final, os pleiteadores ainda acham que é o eleitor que precisa deles.
Isso é mais cômico que promessas do horário eleitoral. Só rindo mesmo.