MEIO AMBIENTE
O relatório da ONU, elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), divulgado no dia 08 de agosto enfatizou: “As mudanças climáticas provocadas pelo homem são irreversíveis e sem precedentes”. Os dados foram esclarecidos pelo professor e pesquisador da Universalidade Estadual de Maringá (UEM) João Paulo Francisco ao jornal Umuarama Ilustrado.
De acordo com o relatório, o planeta ficou 1,07ºC mais quente após a revolução industrial. O levantamento produzido pelo IPCC, traz uma variante de cenários globais com relação ao clima e dentre tais, no modelo sem a participação do homem, a variação de temperatura no planeta seria de apenas 0,1ºC. Por outro lado, em um cenário otimista, a tendência é o planeta aquecer em média 1,5ºC nos próximos 30 anos.
Entretanto, esse cenário otimista leva em consideração uma redução drástica das emissões de gases do efeito estufa e do cumprimento por parte de todos os países das metas firmadas no Acordo de Paris, em 2015, esclareceu João Paulo. “No pior cenário, apresentado pelo relatório, a temperatura pode subir próximo a 6ºC”, disse.
O professor explicou que o aumento da temperatura desestabiliza a atmosfera e o resultado disso são eventos extremos cada vez mais frequentes: enchentes, secas, ondas de calor, ciclones, derretimento no Ártico. Fenômenos extremos relacionados ao aumento do nível do mar que aconteciam a cada 100 anos podem passar a ser anuais.
“Presenciamos essa desestabilização recentemente com as ondas de frio históricas em parte do Brasil, com temperaturas negativas, geadas e neve. A Alemanha, no último mês sofreu com um dos maiores volumes de chuvas já registrado em seu território. Em julho, no Sudoeste do Canadá foram registradas temperaturas superiores aos 49º C, e em alguns casos não caíram abaixo de 20º C nem durante a noite, em latitudes onde o calor não é habitualmente tão intenso”, ressaltou.
O produtor rural da região de Umuarama já vem sentido as mudanças há cerca de três anos e segundo o professor, o relatório mostra um aumento de chuvas para o sul do Brasil. “Ao ver essa informação dá para pensar que seria bom. Mas o relatório aponta para eventos extremos, então as chuvas não serão bem distribuídas a tendência são os veranicos. Tal situação para o solo da região é terrível, pois o arenito Caiuá não retém umidade, se ficamos dez dias sem chuva o solo está seco”, alertou.
Em 2020, o Paraná já sofreu uma crise hídrica o que levou o adiamento do plantio da soja e impactou severamente o milho safrinha, que foi acometido pela geada e praticamente dizimou a cultura no estado. “Produtor da região tem que se preparar para ter um solo bem estruturado. No caso da soja, precisa garantir um aprofundamento do sistema radicular da planta. Para isso é necessário investir em cobertura e agredir o mínimo possível o solo, ou seja, evitar o processo de aradura. O produtor vai ter que começar a enxergar essa tecnologia, além do sistema de irrigação”, falou.
No painel de aumento das temperaturas, exposto pelo relatório, é bom enfatizar que o valor é uma média global, o que significa, por exemplo, no nordeste brasileiro a temperatura subiria em torno de 2,5ºC a 3ºC, com a região sul apresentando aumento entre 1,5ºC a 2ºC. “Estes números podem parecer poucos, porém alterações na temperatura dessa magnitude não foram presenciadas nos últimos 6000 anos.
As atividades humanas estão mudando a composição da atmosfera e o balanço de energia, e pesquisas apontam que o Brasil está em franco aquecimento, o que pode aumentar as regiões áridas no país, em virtude de um elevado déficit de água. “De acordo com o IPCC as chuvas na região centro-oeste do Brasil ficarão mais escassas, com reduções de 20%. Implantar soja e criar gado na região centro-oeste do país pode não ser mais uma realidade, se não olharmos com cuidado para o futuro”, exclamou o pesquisador.
A Amazônia pode ser parte da solução desse problema no sentido de amenizar o efeito estufa, pois essa armazena 120 bilhões de toneladas de carbono por ano, principal gás do efeito estufa, ao lado do metano, explicou João Paulo. “Porém, o que observamos ano a ano é um aumento da área desmatada. Recentemente, com a crise energética, o Brasil está queimando mais combustíveis fósseis, contribuindo ainda mais para as emissões de gases de efeito estufa”, ponderou.
“Segundo o relatório, há uma ampla gama de opções de adaptação para reduzir os riscos para os ecossistemas naturais e gerenciados. Podemos evitar degradação e desmatamento, criar gestão da biodiversidade, aquicultura sustentável, irrigação eficiente, redes de segurança social, gestão de risco de desastres, disseminação e compartilhamento de risco e adaptação com base na comunidade. Nas áreas urbanas criar infraestrutura verde, uso e planejamento sustentável da terra e água”, finalizou Francisco.