CIANORTE
Cianorte – Um preso de 27, morto na tarde de quarta-feira (15), no interior da Cadeia Pública de Cianorte, pode ter sido linchado até a morte por dezenas de outros detentos que dividiam com a vítima uma das galerias da carceragem que fica anexa à 21ª Subdivisão Policial, segundo consta em nota emitida pela Polícia Militar.
Há ainda evidências de que antes de morrer, o detento teria cruzado um “corredor polonês” – com presos perfilados em duas filas – sendo agredido do final da galeria até a porta de saída da carceragem, segundo nota da Polícia Militar.
MOTIVAÇÃO
Segundo a polícia, o motivo alegado pelos presos para as agressões seria a suposta participação da vítima em um crime de estupro no interior de São Paulo. Ainda na quarta-feira, a Polícia Civil negou que a vítima tivesse relação com este tipo de crime, e atribuiu a morte a uma rixa entre os detentos.
AS AGRESSÕES
O relato das agressões foi descrito na nota da 5ª Companhia Independente de Polícia Militar de Cianorte enviada aos veículos de comunicação da cidade e da região. De acordo com a nota, as informações sobre as possíveis sessões de tortura que o preso estaria sofrendo há dias foram relatadas pelos agentes carcerários que trabalham no local. Segundo a nota, os profissionais informaram aos policiais que a família da vítima já havia denunciado que Barbosa sofria tortura por ser acusado de crime sexual.
SUPOSTA TORTURA
“(…) funcionários da Seju (Secretaria Estadual de Justiça) local receberam uma denúncia dos familiares da vítima de que o preso, nos últimos dias, encontrava-se sendo torturado por outros detentos, pois teria chegado ao conhecimento dos presos que ele era suspeito de um estupro em São Paulo, o qual, devido as agressões, encontrava-se totalmente debilitado”, diz um trecho da nota.
Conforme as informações descritas pela PM, quando a equipe chegou até o local que dava acesso à galeria, os presos teriam se negado a apresentar a vítima.
Os policiais, assim como o delegado-chefe da SDP, Marino de Oliveira, teriam insistido e os detentos teriam apresentado a vítima, escoltada por todos os presos que estavam na galeria. Ainda segundo a polícia, uma discussão entre os detentos que concordavam com a saída da vítima e os que discordavam gerou nova tensão dentro do espaço, onde estavam cerca de 80 homens, consta na nota da Polícia Militar.
DESTINO SELADO
“Nesse momento, os detentos retornaram com o preso para o interior da galeria “D” para resolver mediante consenso a apresentação ou não de Barbosa. Após 10 minutos, foi novamente solicitado para que tomassem uma decisão, em liberar ou não o detento, para assim a equipe, caso necessário, providenciar sua retirada acionando apoio, pois não havia até o momento qualquer tipo de princípio de rebelião ou situação com refém”, diz outro trecho da nota.
CORREDOR POLONÊS
“O detento foi apresentado ao fim do corredor, na saída de uma das galerias, onde havia a maior parte dos detentos, que se posicionaram nas laterais do corredor principal de acesso às galerias e formaram o conhecido ‘corredor polonês’. Assim que o detento avançava, passaram a agredi-lo fisicamente para que não conseguisse chegar até a porta de saída, local que a equipe continha os presos com uma célula”, completa o texto.
SEM VIDA
De acordo com as informações da PM, quando a vítima conseguiu chegar à porta os presos mais exaltados investiram contra a vítima “batendo sua cabeça contra as vigas de aço da porta que separava os detentos da equipe”, segundo consta na Nota da PM. Na tentativa de resgatar a vítima e conter as agressões, a PM chegou a fazer uso de armamento não letal. Quando finalmente os policiais conseguiram chegar até o preso ele já estava sem vida. (Tribuna de Cianorte)
Nota da Polícia Civil
A Polícia Civil informou ontem (16), através de nota, que abriu inquérito para investigar a morte de Maxwell Santos Barbosa. E que detalhes sobre as investigações ou a identidade dos responsáveis serão mantidos em sigilo para não atrapalhar as investigações.
“A cúpula da segurança pública tem trabalhado para reduzir o número de presos em delegacias. Semanalmente, o Comitê de Transferência de Presos (Cotransp), que conta com representantes do Poder Judiciário e do Ministério Público, autoriza a transferência de presos de delegacias para o sistema prisional. No entanto, as vagas só são abertas com a saída de presos e, para isso, é preciso autorização do Poder Judiciário”, diz um trecho da nota assinada pela Polícia Civil. (Tribuna de Cianorte)