Por detrás do massacre

Eliseu Auth

O Estatuto do Desarmamento que rege compra, posse e porte de armas no Brasil, acho que merece algum reexame. Principalmente no que toca à zona rural. Não é razoável que lá o morador fique ao léu de quem venha, por ventura a atacá-lo. Não dá para tirar-lhe o direito de se defender. E não é só de assaltante, bandido ou ladrão. Tem animais perigosos também. Como ignorar que onças, cobras e outros bichos estão no cenário? Lembro que na época do plebiscito sobre o Estatuto contei um caso real. Certo morador que conheço mora na zona rural. No porão da casa de madeira cercada de mata e capoeira, morava uma cobra peçonhenta e grande que ele não conseguia capturar. Seu cachorro ela tinha matado. À noite ela rondava em busca de alimento e a família nem andava pelo pátio à noite. E o medo que ela entrasse em casa?

Pois é. A flexibilização do Estatuto tem lugar no caso acima. Agora, não tem sentido o incentivo à disseminação de armas entre os cidadãos. É preocupante ver pessoas em redes sociais e nas ruas defendendo o uso indiscriminado de armas de fogo. Até certas autoridades vem repetindo essa tolice. Não tem sentido essa insensatez. Um dos jargões mais antigos é que a ocasião faz o ladrão. Quantas e quantas vezes crimes acontecem porque tem arma na cena. Ela é má conselheira e péssima companhia entre pessoas onde conflitos podem acontecer. Instiga, açula e encoraja ações de ímpeto. Os anais forenses estão cheios de casos e mais casos de tragédias de impulso e sob violenta emoção. O bom senso aconselha: Alto lá com armas!

O massacre dos inocentes da Escola de Suzano pode ter motivação na onda armamentista. Não digo que é só isso porque há outras causas que podem estar no lado obscuro da internet e outras causas como psicopatias. Mas, a onda de armamentista pode ter incentivado a violência. É insensato entoar loas ao armamentismo. Isso também pode ter estado por detrás do massacre.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).