RECORTE DA HISTÓRIA
O Brasil é considerado um país jovem e em constante reinterpretação de sua história, também reflete essa característica em suas cidades. No caso de Umuarama as memórias de sua construção ainda estão frescas na mente de muitos de seus pioneiros. No entanto, com o tempo, essas testemunhas vivas desaparecerão, deixando a tarefa de contar a história para aqueles que dependem de relatos e registros escritos. Nesse contexto, Renato Fontana relembrou alguns traços da história da Capital da Amizade.
Em entrevista, Renato Fontana, que ao lado da família teve sua história atrelada a antiga empresa Casa Santa Catariana e que também assumiu vários cargos na cidade, entre eles de presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Umuarama (Aciu) e por último de presidente do Sindicato Rural de Umuarama, ressaltou como é lamentável que, muitas vezes, a história de uma cidade seja contada apenas pelos que detêm o poder político, nem sempre representando fielmente os fatos e negligenciando a contribuição de pessoas comuns.
“Em Umuarama, observamos que os nomes, as lembranças e as realizações dos primeiros habitantes e pioneiros da cidade estão se perdendo ao longo do tempo. É fundamental resgatar e preservar a história dessas pessoas. Isso depende da ação e do desejo daqueles que, muitas vezes, não apenas vivenciaram esses eventos, mas também, os contam de acordo com suas próprias perspectivas e vaidades”, ressaltou.
Fontana chegou em Umuarama em 1966, dias antes do Natal, quando abandonou seus planos de seguir uma carreira diplomática para se juntar à empresa da família, essa localizada na novíssima praça Santos Dumont. Nesse período Umuarama era uma cidade em desenvolvimento e com desafios como a falta de infraestrutura básica: eletricidade, asfalto e sistema de esgoto e água. Essas condições adversas impulsionaram o jovem Renato a se envolver ativamente na construção e melhoria da cidade.
“Uma das minhas primeiras atividades, digamos coletivas, foi reunir moradores em volta da praça Santos Dumont e convocá-los a instalarmos água de boa qualidade através de poço artesiano. Instalado, esse poço denominamos de Serviço de Abastecimento de Água Santos Dumont. O local foi administrado por anos por mim e Seu Noemio, então comerciante de loja de móveis”, relembrou.
O umuaramense de coração descreve seu envolvimento na Associação Comercial e Industrial de Umuarama (ACIU), onde assumiu a presidência e trouxe dinamismo à entidade, ampliando o número de associados e estabelecendo parcerias com os poderes públicos municipais. Ele destaca a luta pela construção da rodovia PR-323, a instalação de energia elétrica e telefonia na região, bem como a fundação da APAE-Umuarama e sua participação em congressos nacionais de café.
“A ausência de estrada trafegável sob qualquer condição de tempo, nós fez encetar grande companha publicitaria visando o asfaltamento da Rodovia entre Umuarama e Maringá. Criamos campanha reivindicatória, através de decalques colocados em todos os carros da região. Arrancamos do então governador do Estado, Paulo Pimentel, a promessa de asfaltamento e até nos deu data certa de início dos trabalhos”, recordou Fontana.
Entretanto a obra não saiu como estipulado e o grupo novamente organizou comitiva composta de vereadores e prefeitos da região para o Palácio do Governo do Paraná,. Alguns jornalistas acompanharam, como o diretor do Jornal Umuarama Ilustrado, Ilídio Coelho Sobrinho.
“Alugamos um grande outdoor e colocamos no caminho do aeroporto de Curitiba. A placa denunciava o não cumprimento da promessa governamental. Na audiência com o governador o encontro foi ríspido, mas a estrada saiu. Saiu, mas com traçado que punha a tal estrada há uns dez quilômetros da cidade, o que originou nova ” briga” para mudança de trajeto”, disse o entrevistado.
Naquela gestão a ACIU se envolveu também na batalha para instalação de energia elétrica que remediasse a ausência de tal melhoria para a cidade. “Ainda na Aciu iniciamos a divulgação mais agressiva do nome de nossa cidade, participando de eventos estaduais e até em reunião no Sudoeste, que propunha a criação do Estado do Iguaçu, destacado do Paraná”, enfatizou o ex-presidente da Aciu.
No setor rural, já atuando como presidente do Sindicato Rural de Umuarama e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado, Fontana menciona suas atividades para minimizar os conflitos trabalhistas no campo e sua atuação como Juiz Classista na Junta de Conciliação e Julgamento.
“Procurando minimizar os conflitos trabalhistas no campo, com o ministro do Trabalho, Pazzianoto, instalamos o primeiro núcleo Intersindical de Conciliação do Trabalhista, com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais local, tendo o senhor Valentim como presidente. Com este mesmo objetivo, exerci por longos anos, o cargo de Juiz Classista na Junta de Conciliação e Julgamento quando aqui se instalou a primeira vara daquela justiça federal especializada” recordou o pioneiro.
Ainda conforme o ex-presidente do sindicato rural, junto com Sérgio Toledo Barros, então presidente da Associação Rural de Umuarama, ambos participaram de congressos nacionais de Café, produto principal da região então.
Em meio as memórias, a partir de sua história, Renato Fontana contou que além de sua atuação em entidades comerciais e rurais, também teve envolvimento no Clube Filatélico de Umuarama e na direção de outros clubes sociais locais. “Estive na direção de outras entidades sociais locais. Uma delas em especial, como presidente do Conselho do Harmonia Clube de Campo, logo no início e em momento crítico, quando se pretendia vender as instalações ainda não conclusas. Na presidência do conselho do Umuarama Country clube, construímos a atual sede daquela entidade por corajosa iniciativa do médico Germano Rudner. Tenho, na minha vivência em Umuarama, histórias e fatos tantos que seguramente encheriam muitas páginas” enfatizou.
Renato Fontana revelou ao reportagem que teve momentos de todos os tipos. Alguns trágicos e outros, sendo a maioria, de boas lembranças. “Na grande parte desses itens, daria seguramente origem a dezenas de páginas escritas. Existiram momentos épicos de luta até agressiva na implantação do Colégio Agrícola, no do IFPR, na criação de Cooperativas e até em projetos que só andaram pela metade. Há momentos divertidos, como a noite do toreador maneta no picadeiro em circo mambembe. Alguns de divertida tensão, como quando em questões de ordem político-militares do antigo Grupo dos Onze. Enfim, tenho comigo a consciência que fiz o que pude para minha família, para meus amigos, para minha cidade. Sei que talvez podia mais fazer, contudo é sempre aconselhável deixar algo para ser feito, assim notarão nossa falta pelo que não fizemos”, finalizou.