Eliseu Auth
Embora meio que sinônimos, vejo diferença entre paradoxo e contradição. Esta é conflito entre afirmações que se opõem. Uma é contrária à outra e na antítese ambas se anulam. Uma diz e outra desdiz o dito. Já o paradoxo lembra conflito de opinião, lógica de crença, teoria ou corrente de pensamento.
Então, vamos ao “quibus” da questão. O “é da coisa”, diria o jornalista Reinaldo de Azevedo. O ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado”, informado que é, viu o que aconteceu nos Estados Unidos, sábado passado. Um rapaz de vinte anos, personalidade e perfil ideológico a ver, inscrito no mesmo partido de Donald Trump, atirou contra ele num comício que este realizava no Estado da Pensilvânia. A arma usada foi um fuzil AR-15, semi-automático. Vá entender a tese e a antítese que o fato sugere. O partido do atirador e da vítima é o mesmo. Ambos são republicanos que defendem, unhas e dentes, a liberdade de acesso universal a armas. Seguem à risca, a Emenda II da Bill of Rights de 1791 que defende milícia bem organizada e que “o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”. É tiro no pé. Os tempos mudaram e é preciso restringir o acesso às armas. Tomaram o próprio veneno.
Enquanto os Democratas dos Estados Unidos tentam dificultar acesso e proliferação das armas, os republicanos não deixam. Querem armas pra todo mundo e “a torto e moxo”, como se diz na Linha Salto, onde nasci. Eles não se importam com mortes, tiroteios, massacres em escolas, mercados, ruas e aglomerações, matéria em que são macabros campeões. Sim! Deram um fuzil nas mãos de quem quis matar o seu líder. E agora? Talvez aprendam a não mais pregar liberdade sem limites e semear armas, batendo contiência à indústria do armamento. Lembro que aqui também temos uma “bancada da bala” no Congresso Nacional. E não falta quem aplauda essa insensatez. Até temos uma “bancada da bala” no Congresso. Lá, ela e a extrema-direita pressionaram para tirar as armas do imposto seletivo, também chamado de “imposto do pecado”, como se não fossem nocivas à vida e à saúde. Na Reforma Tributária esse tributo prevê taxação maior para itens que prejudicam a saúde ou o meio ambiente, tais como cigarros, bebidas alcoólicas ou açucaradas, veículos poluentes e extração de minérios, petróleo e gás. Claro. As armas deveriam estar lá também. Até para torná-las menos acessíveis.
Como vêem, estamos diante de paradoxos e contradições.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).