Dr. Osmar Serraglio
A minha vinda a Umuarama coincidiu com a criação do jornal Umuarama Ilustrado, pelo meu amigo Ilídio Coelho Sobrinho.
Eu não conhecia uma viva alma de Umuarama, quando vim para cá. Dois anos antes, tinha sido contador da firma de engenharia de Curitiba que construiu a caixa d’água, no morro das Antenas. Percebi o burburinho do progresso da cidade, mas ficava restrito aos documentos da obra. Mal chegava, reunia a papelada e já partia.
Minha escolha foi sonhando com o futuro. Umuarama era a cidade principal da última região colonizada no Paraná, conhecida como “Norte Novíssimo”. Os pioneiros lembrarão da pujança industrial da cidade, no café, algodão, mamona, amendoim e, com a mudança vocacional, hoje com as grandes indústrias moveleiras e de alimentos.
Ciente da existência do novo jornal, procurei seu Diretor, o ILÍDIO, para ver se me permitiria ter uma coluna no hebdomadário (era semanal). Tinha dois objetivos: fazer-me conhecido e ocupar meu tempo, já que, iniciando a caminhada profissional, não tinha qualquer cliente.
Trocando ideia com ILÍDIO sobre o conteúdo da coluna, chegamos à conclusão de que abordaria alguns fatos que tivessem ocorrido nas minhas áreas, jurídica e educacional (eu lecionava no Colégio Comercial Estadual, que então existia) e, também, sobre as perspectivas do que o futuro prometia para a região. Daí a coluna “RUMOS & RUMORES”.
Lembro de uma pesquisa aprofundada que fiz sobre as limitações que havia, em nossos colégios, diante do crescimento populacional vertiginoso que aqui ocorria e, sugeri “rumos”, tendo inclusive participado ativamente dos primórdios de nossa prestigiada UNIPAR – UNIVERSIDADE PARANAENSE, iniciada com cursos superiores isolados, depois integrados e, finalmente, a elevação a universidade. A criação da Faculdade de Direito, à época, decorreu de luta hercúlea.
Como leitor, desde sempre, desse agora cinquentenário prestigiado órgão de imprensa, posso afirmar que a longevidade do UMUARAMA ILUSTRADO é a cabal comprovação de sua credibilidade. ILÍDIO sempre o conduziu sob a ótica de bem nos informar, privilegiando as notícias de nossa cidade e região. É o que RUI BARBOSA aludiu ao registrar que “a imprensa é a vista da Nação”.
O jornal Umuarama Ilustrado é nossa vista provinciana. Corresponde a uma ilha, nesse mar revolto a que se reduziu nossa grande imprensa.
Sobre a “vista da Nação”, pela vivência que Deus e o povo amigo me oportunizaram, de chegar onde cheguei, volto a compaginar RUI BARBOSA: “Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país, que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.”
Coincidência de hoje com cem anos atrás.
Osmar José Serraglio – ex-deputado federal e ex-Ministro da Justiça