Para depois do voto

Deu segundo turno para presidente. Agora é votar de novo e torcer pelo que virá depois do voto. Claro, sempre temos que fazer a parte que nos cabe fazer. No altar do meu apartamento fiz preces aos céus pela pátria e pelos brasileiros. Pedi as bênçãos do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o Deus uno e trino que a fé me ensinou desde os mais tenros anos da minha vida.

Confesso que estou apreensivo com o quadro brasileiro. Ele remete ao voto que São Paulo deu em “Cacareco”, um hipopótamo do zoológico. Era voto de revolta, protesto e desesperança. Não foi um voto de bom senso que é a coisa mais bem distribuída no mundo, segundo René Descartes. Faltou esse bom julgamento, essa boa análise e essa boa apreciação do que está em jogo.

Sem querer ser dono da verdade que ninguém é, “cacarecos” são a negação do voto consciente que olha para o que virá depois do voto. Há tanto que precisa ser feito e refeito neste Brasil de meu Deus. Carregarei meu voto de pedidos. Pedirei o fim da crise e a volta dos empregos para a nossa gente. Vou pedir como o Padre Vieira fez há quinhentos anos, que os governantes olhem pelo bem do povo e não lhe tomem os bens. O respeito pelo dinheiro público é o primeiro fundamento de uma gestão pública decente.

Seguirei pedindo um governo que controle contas públicas e volte a induzir o desenvolvimento. Há tanto a fazer. São obras inacabadas, estradas esburacadas e transportes alternativos em águas e com ferrovias. Há rios essenciais para os brasileiros como o São Francisco que minguam e assoreiam. Cuidem da natureza e parem de desmatar nossos biomas principalmente a Amazônia. Com dedos cruzados pedirei que o Estado se faça presente em favelas, morros, becos e arrabaldes e lá implante políticas públicas que ocupem as pessoas. O ócio e o desemprego geram violência e alimentam a criminalidade que não pode ser combatida só com cadeias, fuzis, baionetas e granadas. De joelhos, uma última súplica: pedirei o fim do ódio entre pessoas e lados. Aí teremos vencedores e vencidos ao redor de uma só mesa para um grande pacto em favor da Nação. Isso tudo pedirei para depois do voto.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).