Umuarama

SER MÃE

Para concluir estudos, acadêmicas levam os filhos para a sala de aula

18/09/2022 07H30

mães levam filhos para faculdade

Casa, emprego, esposo, filhos e o sonho de concluir o ensino superior. A cada ano a carga de afazeres diários sobrecarregam as famílias promovendo cansaço e estresse. Mas com todos os contras, algumas mães de Umuarama estão buscando força e apoio junto à comunidade acadêmica para finalizar seus estudos ao lado dos seus filhos em sala de aula.

Na UniAlfa Faculdade, em Umuarama, cinco mães acadêmicas estão levando seus filhos para sala de aula e dessa forma concluírem os cursos de Direito, Pedagogia e Psicologia. Com uma rede de apoio diminuta, as alunas não estudariam caso os filhos não fossem com elas para a instituição de ensino. Na Faculdade um espaço foi idealizado – brinquedoteca – para as crianças maiores e os bebes de colo permanecem na sala com o acolhimento dos professores e amigos de turma.

Larissa Monteiro cursa o primeiro ano de Direito matutino e há dois meses ganhou Helena. Além da bebe, a umuaramense ainda tem uma filha de 8 anos e uma terceira de 2 anos. Ela conta que ser mãe é lindo, porém com a vinda da caçula Helena e o início dos estudos, a vida ficou ainda mais corrida e em alguns dias a situação é caótica. “Eu amo ser mãe. É um amor indescritível, algo diferente. Mas não romantizo a maternidade, pois nossa vida se torna extremamente cansativa, é estressante. Minhas duas filhas maiores ficam em casa com minha prima e a Helena, de dois meses, vem comigo para a faculdade todos os dias, pois meu marido precisa trabalhar”, contou a acadêmica.

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Larissa Monteiro cursa o primeiro ano de Direito matutino e há dois meses ganhou Helena

A decisão de cursar o ensino superior veio logo no início da gestação e foi apoiada pelo marido. “A faculdade nos acolheu e eu me senti confortável para trazer a Helena. Desde o pessoal da limpeza até a coordenação, os amigos da sala, todo mundo acolheu a gente. Ela aqui comigo aqueceu o coração e me dá incentivo para continuar”, falou Larissa.

Júlia Caroline Andrade Assagra também fez sua matrícula na faculdade quando descobriu que estava grávida de um mês de Davi Lucca, o qual nasceu no último dia 10 de setembro. A mãe ainda está de licença maternidade, mas a instituição de ensino organizou para a aluna receber as aulas e realizar os trabalhos e provas. O pai de Davi, Pedro Henrique da Cruz, também cursa Direito e fala que nem as madrugadas em claro vão desanimar a família de concluir os estudos. “Se a faculdade não aceitasse nosso filho, acho que eu pararia de estudar para ela continuar”, disse da Cruz.

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Júlia Caroline Andrade Assagra também fez sua matrícula na faculdade quando descobriu que estava grávida, junto com seu companheiro Pedro Henrique

No caso da aluna Amanda Alves, seu filho Murilo tem 8 anos e sem uma rede de apoio ela também precisou levar o menino para faculdade. “O Murilo me acompanha desde sempre, foi para autoescola e no outro curso que fiz. Aqui na faculdade ele se enturmou com a classe e até me auxilia nas aulas. Para se ter noção, ele já quer fazer Direito quando crescer, não quer mais ser cantor de funk, tomara que continue nesse caminho”, ressaltou.

Todas as mães relataram o acolhimento pela comunidade acadêmica e se não tivesse tal situação teriam que repensar o desejo de estudar e conquistar um diploma.

SUPERAÇÃO E APOIO

Com as demandas diárias de dona de casa, mãe de três crianças e acadêmica, Larissa ressalta que não é fácil e em algumas vezes acorda 5h da manhã para dar conta dos estudos e trabalhos. “Tem momento que choro e dá um desespero. Tem as crianças, a casa, os prazos de entrega de trabalho, prova e ser esposa. Mas tem uma frase que carrego comigo: ‘Quando você quer mesmo, a madrugada vira dia, a quarta-feira vira sábado e um momento vira oportunidade’”, noticiou.

Além da força interna, a estudante ressalta o apoio e a parceria do marido. “Ele me apoiou e sempre diz: se é o interesse, faz acontecer e se colocar Deus acima de tudo e ter força de vontade, vai conseguir”, finalizou.

APRENDIZADO E ENSINO

Conforme a coordenadora de cursos da UniAlfa, Laís Bueno, acolher os filhos na instituição promove um equilíbrio nas emoções dos alunos, que proporciona melhor aprendizado. “Nossas emoções estão atreladas com a forma que aprendemos. O cérebro não consegue aprender se estiver com as emoções desequilibradas, como em condições de nervoso, fome e medo. Percebemos que quando essas mães levam esses filhos para sala de aula, elas afloram uma motivação para estudar e um conforto, gerando segurança e estabilidade para aprender”, explicou.

O coordenador Cleberson Oliveira, enfatizou que algumas alunas ficaram preocupados ao saberem da gravidez, mas é uma visão da faculdade dar o apoio aos alunos, em qualquer situação “É direito delas, está no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) o direito de ter acesso aos conteúdos passados em sala e desta forma, a mãe quando tem o neném pode ficar em casa resguardada e quando se sentir confortável, ela retorna para instituições”, falou.

BRINQUEDOTECA

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Conforme a coordenadora de cursos da UniAlfa, Laís Bueno, acolher os filhos na instituição promove um equilíbrio nas emoções dos alunos

Como a faculdade conta com os cursos de Pedagogia e Psicologia uma brinquedoteca foi montada e os filhos dos alunos aproveitam para realizar atividades e jogos, no período em que estão na instituição. É o caso do filho de acadêmica de Pedagogia, Cássia Ramos. Ele tem 7 anos e há quase três anos vai para faculdade com a mãe. “Meu marido trabalha a noite e não tinha ninguém para deixar meu filho. Ano que vem o Pedro vai se formar comigo e vou levar essa história para o futuro e para minha profissão”, disse.

Além do filho de Cássia, o filho de Bianca dos Santos, aluna de Psicologia, também frequenta a brinquedoteca da UniAlfa.

SALA DE AULA

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Professores, diretoria e coordenação acolheram os filhos dos alunos

O professor da disciplina Teoria Geral do Process e o procurador do estado, Wesley Vendrusculo, enfatizou que lecionar com a “Heleninha” é uma alegria e sempre abrilhantando as aulas. “Mesmo com 2 meses ela não foi um empecilho nas aulas. Acho fundamental esse apoio, essa abertura para as mães. Daqui uns anos a Helena já vai ter até OAB, brincou o professor.