19/07/2022
Eliseu Auth
Nossos antepassados chamaram o final do século 19 e início do século 20 de “Bèlle Époque”. De fato, era um tempo de paz e bonança. Os homens viviam em relativa paz e a tecnologia, orgulhosa, supunha haver dado ao homem o domínio da ciência. A par disso, o iluminismo havia criado uma falsa imagem, com a utopia do homem absolutamente feliz em estado de natureza. Assim, suscitou nos corações uma ânsia incontida de felicidade perfeita que não é deste mundo. Veio a primeira guerra. Depois a ditadura comunista de Stalin, seguida pela ditadura nazista de Hitler. Tudo desembocou na segunda guerra mundial, confirmando que a calmaria era ilusão. Enquanto emergia a classe média, os ricos viviam no epicurismo e os pobres na miséria.
Nas palavras de Hélio Tornaghi, “todos os valores até ali aceitos foram contestados. Ciência e crenças eram ridicularizadas. A mofa e a chacota tornaram-se estilo literário. E tudo quanto se amava até aí, foi para a vala comum do escalpelo e do escárnio”. Mas, tudo ficava no campo das idéias.
Esse tempo foi. Nesta quadra, parece que perdemos a noção de civilidade, respeito e tolerância para com quem pensa diferente de nós. Já não sabemos dialogar. É uma pena que estejamos nesse estado que substitui o argumento pelo ódio e pela violência. Não estamos neste mundo para isso. Se discordamos aqui e ali, não somos inimigos, mas pessoas de idéias que divergem. Na dialétia de Hegel, as divergências são tese e antítese que vão dar numa síntese que será uma nova tese. Isso é salutar para a Democracia.
Retrato do que disse acima é o crime de Foz do Iguaçu, onde um simpatizante de Bolsonaro foi à festa de aniversário de um apoiador do ex-Presidente Lula, matando-o com tiros de revólver. Pelo que se viu, estamos diante de uma barbárie de pura intolerância. É mais que só um homicídio qualificado. Passa a ser sinal de alerta para todos. Unamo-nos, pois. Cidadãos, governos, imprensa, partidos políticos, instituições em torno de um grande pacto contra a violência e o ódio. Não foi isso que o doce Nazareno pregou? É preciso segui-Lo, pois. Desarmar os espíritos neste tempo de eleições. Ainda que tenha gente exibindo armas dentro de igrejas… Isso é infâmia demais, diria Castro Alves. Cícero bradaria de novo: “Oh! Tempos! Oh! Costumes!”
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).
