Dr. Eliseu Auth

06/04/2022

O Zé pode ter razão

06/04/2022 15H46

Jornal Ilustrado - O Zé pode ter razão

Eliseu Auth

Às vezes é melhor ser surdo que ouvir certas besteiras, queixa-se um amigo meu quando se depara com uma estupidez. Na semana que passou ele ouviu o presidente Bolsonaro dizer que “povo armado jamais será vencido” e, em seguida, atacar as urnas eletrônicas. Zé não agüentou e queixou-se de novo. Caboclo da roça, mas de muita sabedoria, repetiu o bordão e concluiu que a afirmação do presidente era leviana e escondia uma ameaça de insurreição armada no caso de sua derrota nas próximas eleições. Não quero atinar a tanto, mas será que posso duvidar da sabedoria do meu amigo Zé?

Discordo do Presidente. Quem liberta um povo não são as armas. É a educação, a cultura, o conhecimento, pesquisa e domínio da ciência. São os livros. Fuzis e revólveres nas mãos das pessoas produzem cizânia, ódio e mortes. E sempre açulam o braço assassino. A história está aí para mostrar isso. Países que se desenvolveram investiram na educação. Até Cícero advertia a poderosa Roma do seu tempo: “Non sunt opes, non sunt armae qui Republicam servant. Servant mores!” Não são as riquezas e nem as armas que salvam a República, mas seu conhecimento, seus princípios e costumes.

Na velha Grécia, Atenas primou pela cultura. Fez Academias, deu ao mundo filósofos e legou princípios e valores eternos como a Democracia. Sua rival Esparta deixou a educação a um segundo plano e cuidou de armas em vez de idéias. Armou-se com soldados bem treinados em vez do saber. Queria dominar pelas armas e até teve uma vitória isolada na guerra do Peloponeso. Mas, depois caiu sob o domínio da Macedônia de Felipe II que se apaixonou pela cultura de Atenas e mandou seu filho Alexandre Magno para ser educado pelo filósofo Aristóteles. Atenas iluminou o mundo com a cultura helênica, berço do ocidente e se consolidou como capital da Grécia enquanto a bélica Esparta estagnou e hoje é só uma pequena cidade na região de Lacônia.

Tem toda razão o educador Paulo Freire que os professores estudam e admiram. Diz ele que a educação liberta e transforma pessoas e estas transformam, libertam e desenvolvem a sociedade. O termo educação vem de (“e+ducere”) e significa conduzir para fora da ignorância. Aí, meus botões concluem: Se, quem liberta uma nação é a educação, o Zé pode ter razão.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).

O Zé pode ter razão

Eliseu Auth

Às vezes é melhor ser surdo que ouvir certas besteiras, queixa-se um amigo meu quando se depara com uma estupidez. Na semana que passou ele ouviu o presidente Bolsonaro dizer que “povo armado jamais será vencido” e, em seguida, atacar as urnas eletrônicas. Zé não agüentou e queixou-se de novo. Caboclo da roça, mas de muita sabedoria, repetiu o bordão e concluiu que a afirmação do presidente era leviana e escondia uma ameaça de insurreição armada no caso de sua derrota nas próximas eleições. Não quero atinar a tanto, mas será que posso duvidar da sabedoria do meu amigo Zé?

Discordo do Presidente. Quem liberta um povo não são as armas. É a educação, a cultura, o conhecimento, pesquisa e domínio da ciência. São os livros. Fuzis e revólveres nas mãos das pessoas produzem cizânia, ódio e mortes. E sempre açulam o braço assassino. A história está aí para mostrar isso. Países que se desenvolveram investiram na educação. Até Cícero advertia a poderosa Roma do seu tempo: “Non sunt opes, non sunt armae qui Republicam servant. Servant mores!” Não são as riquezas e nem as armas que salvam a República, mas seu conhecimento, seus princípios e costumes.

Na velha Grécia, Atenas primou pela cultura. Fez Academias, deu ao mundo filósofos e legou princípios e valores eternos como a Democracia. Sua rival Esparta deixou a educação a um segundo plano e cuidou de armas em vez de idéias. Armou-se com soldados bem treinados em vez do saber. Queria dominar pelas armas e até teve uma vitória isolada na guerra do Peloponeso. Mas, depois caiu sob o domínio da Macedônia de Felipe II que se apaixonou pela cultura de Atenas e mandou seu filho Alexandre Magno para ser educado pelo filósofo Aristóteles. Atenas iluminou o mundo com a cultura helênica, berço do ocidente e se consolidou como capital da Grécia enquanto a bélica Esparta estagnou e hoje é só uma pequena cidade na região de Lacônia.

Tem toda razão o educador Paulo Freire que os professores estudam e admiram. Diz ele que a educação liberta e transforma pessoas e estas transformam, libertam e desenvolvem a sociedade. O termo educação vem de (“e+ducere”) e significa conduzir para fora da ignorância. Aí, meus botões concluem: Se, quem liberta uma nação é a educação, o Zé pode ter razão.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).