Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

O sol é para todos

31/03/2025 17H29

Jornal Ilustrado - O sol é para todos

Eliseu Auth

O título é nome de um filme que levou 3 estatuetas no Oscar de 1963. Por tudo o que ensina, trago-o para meditação do ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado”. Inspiro-me no livro “Os advogados vão ao cinema”, onde o advogado Francisco Müssnich faz excelente reflexão. Seu herói é Atticus Finch que defendeu, no tribunal do júri, Tom Robinson, um trabalhador negro, acusado de estupro contra a mulher branca Mayella Ewell. No ambiente tinha uma sociedade conservadora, preconceituosa e rascista do Alabama.

Atticus, por sua humanidade, incorruptibilidade e exemplo de homem de família, era querido na aldeia. Mas, depois de receber a missão de defender o negro que jurava ser inocente, tudo mudou. Passou a ser odiado, vítima de ataques e ofensas porque a comunidade queria o negro condenado, mesmo sem prova alguma. Queria, por fás ou por nefas, o negro na cadeia. Afinal, para ela as palavras de uma vítima branca valiam mais que provas, argumentos, negativa e súplicas de um preto que se dizia inocente.

Nesse contexto surge o conflito para o advogado Atticus. Deveria continuar na causa, provar a inocência na convicção que tinha e enfrentar o pressuposto da maioria que queria a condenação, indispondo-se com tudo e com todos? Aí, homem reto que era, refletiu que, antes de viver com os outros deveria conviver consigo mesmo. Jamais abrir mão da verdade, mesmo que isso o fizesse odiado. Ao decidir abraçar a causa, segundo Müssnich, “demonstra a construção do sujeito ético, que não se deixa corromper e que luta, mesmo sem chance de vitória, pelo que acredita ser justo e correto” (op. cit. pág. 50).

No tribunal do júri, Atticus Finch, apoiado em provas, demonstrou a impropriedade da acusação. Apontou que a vítima quis seduzir o acusado, um homem casado, pobre e trabalhador, mas que era um negro que clamava por sua inocência. Não adiantaram os argumentos de Atticus e Tom Robinson foi condenado, apesar das provas. Foi para a cadeia e depois, morto pela polícia.

Concluo que ainda estamos longe do título o sol é para todos.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).