O que aconteceu com o Genivaldo

Eliseu Auth

Genivaldo de Jesus Santos é aquele brasileiro que morreu sufocado em gás, dentro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, na BR-101, lá no Sergipe. Consta que fora abordado por pilotar uma moto sem usar capacete. Até nada de errado. O uso é obrigatório e não fica desobrigado só porque o presidente Bolsonaro dá mau exemplo e não bota capacite nas tais motociatas. Segundo testemunhos e imagens, o pobre Genivaldo foi preso e trancafiado no porta-malas da viatura oficial, onde injetaram o gás letal que o matou.

Há indícios de tortura e não se vê uma razão sequer para tanta truculência policial. Vai ser difícil explicar isso ao juiz quando exercerem seu direito à ampla defesa, garantia que o Estado Democrático de Direito lhes assegura, ainda que Genivaldo não tenha sido ouvido quando suplicou pela vida. Também o pobre povo de morros, favelas e comunidades vive suplicando por respeito nas operações policiais, mas é vítima do açodamento que dá em massacres no que chamam de caça aos “bandidos”.

Há bons policiais; Às vezes, precisam e podem ser enérgicos. Mas não precisam ser truculentos e abusados, principalmente quando o cidadão abordado já não oferece resistência. Ninguém pede que a polícia aborde com voz aveludada, punhos de renda e flores nas mãos. Só o que se pede é respeito. Não há vingança a ser feita contra o cidadão que bota arma na cintura da polícia e paga o seu salário. Diante disso, fico me perguntando a razão de tanta raiva no caso de Genivaldo e de outros como o do guardas civis de São Paulo contra um cidadão negro sufocado e preso quimera. Há um ar pesado que páira no país inteiro. O que se vê são chingamentos e incitação onde tudo se resolve com arma, porrada e bala. As pessoas não são bobas e sabem quem fomenta esse clima. Já nem é coisa de repórter policial sem noção do Direito que estufa as veias do pescoço, solta perdigotos e grita contra as leis do país.

O ilustrado leitor de “Umuarama Ilustrado”, inteligente que é, deve estar saturado desses arroubos de ódio que dividem as pessoas e o país. Talvez seja ele quem incita a violência e explica o que aconteceu com o Genivaldo.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).