Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

O pai moderno

03/12/2019 20H35

Li, no jornal FENACON e adaptei o tema para o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado”. Repito-o por sua importância. Lá vai: “O pai moderno passa a vida correndo atrás do futuro e esquece o presente. Com prazer e orgulho, a cada ano declara seu Imposto de Renda. Cada nova linha acrescida foi produto de muito trabalho. Casas, lotes, apartamentos, sítio, automóvel do ano – tudo custou semanas e meses de luta. Ele pensa que está sedimentando o futuro da família e se partir de repente, não vai deixá-la desamparada…

Para aumentar a relação de bens ele não se contenta com um emprego. É preciso dois ou três, vender parte das férias, levar serviço para a casa. É um tal de viajar, almoçar fora, fazer reuniões para ser um executivo dinâmico. Esse homem esquece que na verdadeira declaração de bens, o valor que conta está em outra página do formulário. Está nas linhas modestas e quase escondidas onde se lê: “Relação de dependentes” que são as pessoas a quem ele deve dedicar melhor o seu tempo.

Os filhos, novos demais, não estão interessados em propriedades e no aumento da renda. Eles só querem um pai para conviver, dialogar e brincar. Os anos passam, os meninos crescem, e o pai nem percebe. Entregou-se de tal forma à construção do futuro que não participou de suas pequenas realizações. Não os levou ao colégio, nunca foi a uma festa infantil, não assistiu à coroação de sua filha como rainha da primavera. Há filhos órfãos de pais vivos. O pai para um lado, a mãe para outro e a família desintegrada, sem amor, sem diálogo e sem convivência. Depois de uma dramática experiência familiar, diz o pai que não há tempo melhor aplicado que o dedicado aos filhos. Construí o futuro e não sei o que fazer com ele depois da perda de Luiz Otávio e Priscila. De que vale o que juntei se esses filhos não estão mais aqui?

De que valeram os 30 anos de serviço se o dinheiro não foi capaz de comprar a cura do meu filho amado que se drogou e morreu? Se não foi capaz de evitar a fuga de minha filha que saiu de casa, se prostituiu e dela não tenho mais notícias, para que o dinheiro? Eu trocaria, explodindo de felicidade, todas as linhas da declaração de bens por duas únicas que tive de retirar da relação de dependentes: os nomes de Luiz Otávio e Priscila. Meu filho morreu aos 14 anos de idade e Priscila fugiu de casa um mês antes de completar 15 anos”. Nós pais, temos que pedir perdão aos nossos filhos pelo tempo que não lhes dedicamos quando mais precisavam de nós. Tal como o pai moderno.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).