Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

O meu Rio Grande amado

13/05/2024 19H29

Jornal Ilustrado - O meu Rio Grande amado

Eliseu Auth

     Na memória do tempo, volto ao meu Rio Grande amado. E agora sofrido pelas águas que o inundam e flagelam sem dó nem piedade. Enquanto tento entender as causas e razões da tragédia, a memória me leva às lições do meu professor Nicolau Meinerz que semeou em mim um carinho especial pela terra que me viu nascer. Recordo que tinha dois mapas na escola em Linha Salto: um do Brasil e outro do Rio Grande. Ainda escuto as lições que aprendi. A Província de São Pedro sempre lutou contra a tirania e plasmou o Rio Grande do Mampituba ao Chuí. A gente entendeu a essência dessas ideias e dessa história libertária. Foi a semente da Democracia que caiu n´alma da gente. 

     Andei por quase todo o Rio Grande. De norte a sul, leste a oeste, de seminário em seminário, o Rio Grande me ensinou. Vê-lo submerso em águas, contar vítimas e enterrar mortos por conta de uma tragédia ambiental é sofrido demais. Caí, Jacuí, Camaquã, Ibicuí, Taquari, Sinos e Gravataí são nomes de rios que decorei na infância como lição de casa. Sempre foram familiares e agora parece que já não são. Ficaram revoltados, transbordam, invadem casas, alagam ruas e arrastam gente. Entendo, mas os rios não têm culpa. Mudaram porque o tempo mudou. O planeta ficou estranho e a gente precisa se preparar para as mudanças climáticas e não negá-las como alguns fazem por estranha ideologia ou apego pueril ao terraplanismo inútil.

     Sei que não é hora de apontar dedos para culpados. Há que salvar o que dá para ser salvo. Principalmente a vida dos nossos irmãos do sul. Nisso, é preciso exaltar a solidariedade de todo o Brasil, seja das pessoas e dos governos, inclusive do nosso Governo federal, seus ministérios e suas forças armadas. Todos merecem aplausos no trato das conseqüências da desordem ambiental. Sem divisão, sem ódio e sem partidarismo, precisamos nos irmanar e atentar para as mudanças climáticas. Ninguém ganha por negar o aquecimento do planeta. O mínimo que precisamos é reconhecê-lo, minorá-lo e evitar o agravavanento das conseqüências. Esta é a sofrida lição que nos deixa o meu Rio Grande amado.

     (Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).