Eliseu Auth
Coisa ruim pega, dizia um supersticioso amigo que já encantou. Pelo sim e pelo não, no Natal e no ano que começa, a gente não precisa ficar lembrando coisas ruins. Bato na madeira e sigo o amigo. Vamos que tenha razão…
Se não pedimos para nascer, aqui estamos e há que caminhar o caminho que precisa ser caminhado. Existimos e a vida passa num determinismo em que o vivente vai tentando achar a razão de ser, agir e fazer. Aqui embaixo, no mundo real, sensível e material, somos assaltados pela angústia do sentido da própria existência. Guardo a reflexão do padre Francisco Leme Lopes que pergunta: “A vida humana será apenas uma afirmação de um instante entre dois silêncios eternos? Os homens não passarão de candidatos a cadáveres? Serão apenas futuros mortos? Antes: nada… Depois: nada…? Espera-nos o sono ou o despertar?(…)”. (in Estudos de problemas brasileiros).E aponta a razão da existência: “Para determinar o como da vida, é mistér saber o porquê da existência. A moral supõe a Teodicéia: só pela dependência do homem em relação a Deus pode ter sentido a obrigação.(…) Para os que não admitem Deus, não há explicação possível. Para os que admitem, nenhuma outra explicação é necessária”. Então, crer e praticar o bem dá sentido à vida.
Como o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” vê, estamos no campo da fé que, segundo Kant não é teoria sobre Deus que é “nõumenos” (realidade em si), inacessível ao conhecimento, mas oferece conceitos e princípios para a ação moral e esperança num destino superior da alma. Por quê estamos aqui e como agir para sermos felizes depois desta existência? Sim. É necessário que nos perguntemos sobre isso, ainda que não haja certeza metafísica para o depois. Quem me sossega é a fé de berço que meus pais me ensinaram. Nela, o catecismo apresenta Deus, criador do céu e da terra, origem de todo o bem que manda amá-Lo, amar o próximo e fazer o bem. Essa conduta aplaca nossa angústia e serve como lei universal. Para Kant, seria o imperativo categórico. Aqui, faço desse modo de ser e agir o meu imperativo para o ano novo.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).
