O jogo da demagogia

Eliseu Auth

Nem tinha pensado escrever sobre isso. Há tantas coisas que se passam neste mudo cada vez menos de meu Deus, que o que vou tratar me parecia corriqueiro. Mas, não é. O ilustrado leitor do Umuarama Ilustrado vai lembrar que, logo após as eleições, fiz elogio ao governador de Minas Gerais porque não foi à posse do Bolsonaro porque não tinha avião de linha. Não queria fazer gastos com o avião do governo só para ir à posse. escrevi o artigo “Cícero e Zema”, onde elogiei o gesto de austeridade do governador eleito de Minas. Comparei-o a Cícero que se batia por austeridade no Senado romano.

Pois é. Cabe aos governantes zelar pelo equilíbrio dos orçamentos nos órgãos públicos. Deles se espera, no mínimo, que evitem o caos. O Zema, agora me decepcionou. Fez o jogo da demagogia. Quis agradar a onda militarista incentivada pelo Planalto e deu aumento de 42% aos policiais militares mineiros, cujo soldo inicial é de R$ 3.785,74. Se policiais merecem salário digno, e merecem, ocorre que Minas já não paga salários atrasados e está à beira da insolvência. Deve 13º salário a professores que têm salário inicial de R$ 1.933,88 e a média no ensino fundamental fica em R$ 2.118,88.

Vou ao motim de policiais militares do Ceará. Não escutamos nenhuma palavra do Presidente contra esse movimento de parede. Durante o motim até ameaçou não prorrogar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que levou o exército para socorrer o povo cearense que viu os homicídios se multiplicarem pela greve proibida na Constituição. E, para desencanto de todos nós, ouvimos o militar do exército enviado para dar fim ao motim, elogiar os amotinados erigindo-os ao “status” de heróis. E a lei? A que ponto chegamos…

Vou à resenha. O Estado democrático precisa dos militares que devem obediência às leis e precisam de controle. Também precisa tratar todos, civis e militares, com a mesma régua da dignidade. Governos precisam governar com equilíbrio, sensatez e austeridade. Nunca fazer o jogo da demagogia.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).