Dr. Eliseu Auth

Eliseu Auth

O imperativo categórico de Kant

25/03/2024 19H57

Jornal Ilustrado - O imperativo categórico de Kant

     Não sou filósofo, mas frequentei a matéria que era obrigatória no seminário. Filosofia faz a gente pensar, refletir, entender quem a gente é e o vasto mundo que nos rodeia. O imperativo categórico que pus no título é do filósofo Immanuel Kant na sua “Crítica da razão prática” e diz mais ou menos isto: “Age de acordo com uma máxima tal que possa ser considerada como lei universal”. É o jeito civilizado de ser e fazer, onde estão todos os juízos de valor sobre pessoas, ações, sentimentos, intenções e decisões como bons e maus, desejáveis ou indesejáveis. Sim. Tudo está lá.  

     Ele me veio à mente com os acontecimentos que agitaram a imprensa daqui e do mundo, nestes últimos dias. Refiro as prisões de Daniel Alves e Robinho, por condenação na justiça, em razão de crimes de estupro. Pois é. Ambos já foram ídolos do nosso futebol e gozaram de carinho e admiração.

     Ninguém se alegra com a desgraça alheia, mas a civilização não pode abrir  mão do respeito à dignidade da mulher e do combate ao machismo. Quando os criminosos são ídolos que influenciam milhares de pessoas, especialmente jovens a quem deveriam dar exemplo, o problema fica ainda maior. A punição se impõe de logo e precisa ser exemplar até para salvar o paradigma que se quebrou com os crimes. O respeito à mulheres deveria ser tão natural como o próprio ato de respirar. Afinal nascemos de uma mulher que é nossa mãe. Nada mais é preciso dizer para justificar esse princípio que deveria ser inato.  

     A punição para crimes é da regra de convivência. É imperativo da lei que protege a todos. A verdadeira liberdade não está em fazer o que se quer. Está no andar dentro dos limites que respeitam direito alheio. Não estamos na anarquia que detesta lei e baba liberdade sem limites como querem alguns. Muito menos num regime ditatorial onde quem faz a lei é o ditador.

     O filósofo de Königsberg fois sábio na sua “Crítica da razão prática”, onde se ocupa da moral e da ética. Ali aconselha que devemos agir de tal forma que nossa ação possa servir como lei universal. Quem comete crime ofende a lei que nos protege. E, se a ofende, despreza o imperativo categórico de Kant.

     (Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).