O aluno e ele, o celular

Confesso que sou dinossauro em informática. Mesmo assim, o celular faz parte da vida como item necessário e imprescindível. Esquecido que sou, dia sim e dia também, largo-o por onde passo. Aí vira uma tortura ir atrás dele até achá-lo, tormento que o ilustrado leitor do “Umuarama Ilustrado” também já deve ter experimentado. Já perdi a conta de quantas vezes o extraviei, inclusive na vizinha Cruzeiro do Oeste, onde tenho um milhão de amigos.

Pois é. Esse danado se botou na vida das pessoas e não imagino que um dia se aparte dela. Quando ando pelas ruas da cidade observo que quase todo mundo está com olhos grudados nele. Definitivamente, celular e redes sociais tomam conta das pessoas. É corriqueiro ver casais e filhos sentados à mesa de um restaurante, cada um pontilhando seu celular. Nada de conversa entre pais e filhos. Isso intriga porque aquele encontro deveria ser um momento sagrado e familiar. Hora de conversar, trocar idéias, passar experiências e orientações sempre necessárias e benvindas ao convívio familiar. No extremo apego, à minha frente, um cristão atravessou uma avenida bem movimentada, sem tirar o olho da telinha do celular. Nem olhou para os lados e quase foi atropelado. Isso ninguém me contou. Eu vi e até tentei chamar a atenção do incauto, coisa que ele nem deu bola. Bem feito. Quem manda meter-se na vida dos outros?

Agora, imaginem o estrago que faz um celular nas mãos de alunos em aula. Não há Cristo que garanta um mínimo de concentração para a aprendizagem.
E, sem concentração, aprendizagem não há. Os mestres da minha vida foram os bancos escolares. Se mais aprendi que ensinei, tudo devo aos livros e à Escola, onde meus alunos também me ensinaram e deram lições que guardo. Os distraídos e desconcentrados nunca foram maus alunos. Precisavam de motivação que leva à integração no processo de aprendizagem. Sentir-se dentro dele e vê-lo como parte da sua vida e do seu futuro. Com celular nas mãos, não há aluno atento e concentrado para aprender. Há alguns dias, mas ainda em boa hora, o Presidente da República sancionou a lei que regulamenta o uso de celulares em Escolas do país. A medida é indispensável para garantir uma educação de verdade, condição para o futuro da Nação. É uma dose do remédio necessário para a relação entre o aluno e ele, o celular.

(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).