Ninguém merece o que está aí

Eliseu Auth

     Este mundo já foi mais de meu Deus. Agora, mais uma guerra que ninguém merece. Não bastassem os problemas existenciais do planeta que precisa investir na preservação climática, no combate à fome e no desenvolvimento sustentável dos povos, lá vem mais uma guerra. Não bastassem os conflitos que já temos na Ucrânia, Síria, Iêmen, Afganistão, Mianmar, Congo e Haiti, agora explode a luta entre palestinos e judeus. Papai diria que é uma cosa por demais. Concordo porque a luta para repor a ordem no caos do orbe tem ares de Sísifo, condenado a empurrar uma pedra que sempre cai do topo do monte.

     Sei que sou mourejado e isso me dá o galardão de também ser testemunha da história. Refiro-me à guerra dos seis dias entre Israel e um grupo de países árabes, lá no mês de junho de 1967. Lembro, como se fosse ontem, o pânico da colega Mariazinha, ex-miss Santo Ângelo e judia por adoção dos donos da “Casa Nobreza” que integrava meu grupo no Diretório Acadêmico. Afinal, era uma guerra da solitária nação israelita contra vários países como Egito, Síria, Jordânia e Iraque com colaboração de Arábia, Kuwait, Argélia, Líbia e Sudão. Seria um massacre contra sua Israel, desabafava minha colega. Não foi. Israel surpreendeu e venceu a guerra em uma semana. E justificou que só se adiantou para defender a própria existência como Estado soberano.

      Conto que no Diretório havia respeito entre judeus e árabes. Tive a colaboração do palestino Naim Yunis Hamad, ex-militante da Al Fatah, braço armado da OLP (Organização de Libertação da Palestina), liderado por Iasser Arafat. Este, menos radical que o Hamas, não queria a extinção de Israel, mas um território para o Estado palestino. Por causa do Naim que era dono da Casa “Dois Irmãos”, em frente à praça do Bar Copacabana, fiquei simpático à sua causa, sem jamais contrariar Mariazinha e a existência de Israel como Estado desde 1948. Só a coexistência pacífica interessa. E o respeito a judeus e palestinos.   Ninguém merece tanta guerra. Ninguém merece o que está aí.   

     (Eliseu Auth é Promotor de Justiça inativo, atualmente Advogado).